São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995 |
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Pilotos trocam farra por videogame
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
Este é o séquito que acompanha hoje em dia um piloto de F-1. O ritmo de trabalho é espartano e ele normalmente não bebe, não fuma e dorme cedo. A rotina, às vezes, é quebrada, quando sua presença é requisitada em festas de patrocinadores. Mas a não ser que elas aconteçam depois das corridas, a farra se resume a no máximo meia hora de autógrafos e respostas treinadas para perguntas insípidas. Ao contrário de outros tempos, os pilotos atuais fazem parte de uma geração homogênea, onde alguns pré-requisitos são obrigatórios. Com o desenvolvimento tecnológico dos carros e o consequente aumento da velocidade, a capacidade física e motora dos pilotos se tornou muito importante. Controlar um painel com 13 botões e suportar os exagerados efeitos da gravidade nas curvas, fez os atletas de cockpit ganharem um gosto especial por videogames e pescoços grossos, dignos de boxeadores. O peso dificilmente ultrapassa os 75 kg e a altura raramente chega ao 1,80 m —estatura não é predicado de piloto. Um perfil bem diferente dos pilotos de outras décadas, como os redondos Vittorio Brambilla e Keke Rosberg (anos 70 e 80). Mas não são apenas as exigências físicas que tornam os pilotos de hoje tão parecidos uns com os outros. A pasteurização se completa com a falta de criatividade nas respostas, os cabelos esmeradamente cortados e uma cordialidade empresarial que chega a irritar. Na temporada de 94, os tablóides ingleses lançaram uma polêmica entre os dois desafiantes pelo título, Damon Hill e Michael Schumacher, para "esquentar" a disputa, até então morna como um jogo de baralho entre senhoras. Bem diferente de outras rivalidades famosas, onde não faltavam palavrões e ataques pessoais a honra alheia. Exemplos recentes? Os embates verbais Senna x Prost, Senna x Piquet, Piquet x Mansell. As discussões podiam não ser muito educadas, mas causavam expectativa na hora da largada ou na disputa de uma freada. Hoje em dia, é mais fácil esperar por alguma bobagem de um piloto de aluguel —um personagem não tão novo na F-1, mas que tem aparecido em demasia nos últimos tempos. Com algumas centenas de milhares de dólares, qualquer um consegue comprar a vaga de uma equipe pequena por uma corrida ou duas. Para o piloto, a satisfação de incluir no currículo a participação na F-1. Para a equipe, um dinheiro que pode garantir a revisão do motor ou uma peça nova no chassi. Ao contrário das expectativas do começo da década, quando a eletrônica faria tudo e os pilotos apenas acionariam botões, a F-1 regrediu atrás da competitividade. Neste ano, em busca de mais segurança, as regras do jogo foram mudadas de novo. Carros mais lentos e com tanques menores provocarão mais estratégia e combate direto nas pistas. E talvez, mais pressionados, os pilotos se tornem menos programados e mais humanos para poder vencer. (JHM) Texto Anterior: Velocidade entra este ano na era da linha de montagem Próximo Texto: Brasileiro venceu 41 corridas na F-1; O tricampeão obteve 65 poles; Francês ganhou seis GPs do Brasil; Argentino ganhou cinco temporadas; O NÚMERO; Índice |
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