São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fábricas ameaçam engolir times

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois fatos ocorridos no final do ano passado deram os limites da nova era da F-1.
O futuro da F-1 parece não ter espaço para as escuderias.
Elas devem ser engolidas pelos grandes fabricantes de veículos, em busca do cada vez mais caro espaço na mídia.
Parece discussão semântica, mas torcer pela Benetton é bem diferente do que torcer pela Toleman, que é patrocinada pela Benetton (ousada, a confecção italiana comprou a equipe em 1986).
Em alguns anos, e as determinações da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) empurram a F-1 nessa direção, os torcedores da McLaren poderão estar torcendo pela Mercedes.
Tudo isso via satélite, já que em todas as partes do planeta, as transmissões esportivas ganham, a cada dia que passa, mais espaço na televisão.
No caso da F-1, o efeito publicitário é devastador. Quem não gostaria de ter na garagem um carro cuja marca vence nas pistas de forma arrasadora —o efeito pode ser sentido aqui mesmo no Brasil, depois que as importações foram liberadas e nomes como Renault, Peugeot, Honda etc se tornaram palpáveis ao consumidor.
E para quem acha que as tragédias de 1994 afetaram de algum modo o grande negócio da F-1, a própria Foca (Associação dos Construtores) dá a resposta em seu anuário.
A audiência do esporte cresceu 24% de 93 para 94 e deve chegar a incrível casa de 50 bilhões de telespectadores neste ano, em números acumulados (treinos e corridas).
Bernie Ecclestone, o todo-poderoso presidente da Foca, sintetizou bem o que os acidentes de Imola e de Mônaco provocaram no público: "A TV mostrou a F-1 com todos os seus dramas, muita adrenalina e fatos imprevisíveis realçados pelo reabastecimento, que introduziu uma nova estratégia para as corridas".
Exagerando o pensamento de Ecclestone, muitas pessoas encararam a morte de Ayrton Senna durante o GP de Imola como se estivessem assistindo a um dos combates da Guerra do Golfo pela CNN.
Tragédia é notícia, e notícia é o que o público espera da mídia. Um bom exemplo foi o incêndio do Benetton de Jos Verstappen, em Hockenheim, no ano passado.
Uma imagem espetacular, que ocupou as primeiras páginas dos jornais no dia seguinte.
A audiência caiu quase pela metade no Brasil após a morte de Senna. Mesmo assim, o país ficou em quarto lugar entre os 160 que acompanharam a categoria em 94.
Não interessa a ninguém que o grande negócio acabe. Para garantir o espetáculo, a FIA modificou as regras este ano.
Os carros devem ficar mais lentos e mais seguros, o reabastecimento será mais frequente e as ultrapassagens também.
Novas câmeras, em locais inusitados, e gráficos com o desempenho de carros e pilotos deverão aumentar a qualidade já superior das transmissões. Um show.
Que não vai parar. (JHM)

Texto Anterior: O mais competente, sem rival e aclamação
Próximo Texto: COMO FOI EM 94
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.