São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Manchete sofre denúncia de desmatamento

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A novela da Rede Manchete "Tocaia Grande" virou caso de polícia. A Procuradoria da República determinou à PF (Polícia Federal) abertura de inquérito criminal para apurar denúncia de desmatamento na APA (Área de Proteção Ambiental) de Maricá —onde a emissora pretende construir duas cidades cenográficas.
Além do inquérito na PF, as obras das cidades cenográficas foram embargadas quinta-feira passada pela Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente).
Se comprovar o desmatamento ilegal em área de cerca de 20.000 m2, o procurador da República Maurício Gonçalves moverá ação criminal contra os responsáveis. A Folha esteve no local das obras e constatou a derrubada de inúmeras árvores.
Os problemas enfrentados pela Manchete podem inviabilizar a superprodução de sua próxima novela —baseada em texto de Jorge Amado—, orçada em cerca de R$ 8 milhões.
As obras das cidades cenográficas —que reproduzem a região cacaueira baiana de Itabuna, nas primeiras décadas do século— colocaram a Manchete em rota de colisão com ambientalistas do município fluminense de Maricá, a 60 quilômetros do Rio.
A partir de denúncias da Saplam (Sociedade dos Amigos das Praias e Lagoas de Maricá), o Ibama/Rio (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) embargou inicialmente as obras em 22 de fevereiro.
O decreto estadual que criou a APA de Maricá, de 1984, proíbe qualquer extração de madeira e vegetação característica da região, além de alterações no perfil natural do terreno. O Código Florestal (federal) também proíbe desmatamentos na APA.

Terreno alternativo
O ambientalista Pedro Hugo Muller Xaubet, 36, disse que a APA de Maricá é constituída de vegetação de transição de restinga para Mata Atlântica. "É um dos poucos locais no país onde ainda se encontra uma vegetação do gênero."
Com o embargo do Ibama, o diretor-artístico da Manchete, Régis Cardoso, começou a procurar um terreno alternativo para abrigar as cidades cenográficas.
Mas não encontrou o terreno ideal —o cenário descrito por Amado inclui um rio próximo a um morro— e resolveu apostar na continuidade das obras na APA de Maricá.
Em 8 de março, a Manchete conseguiu do superintendente do Ibama/Rio, Wilson Mendonça, a expedição de uma "autorização especial" para o prosseguimento das obras.
Mas por se tratar de uma APA estadual, o comando do Batalhão Florestal da Polícia Militar (que participou da operação do primeiro embargo) armou semana passada uma tocaia grande em apoio aos ambientalistas de Maricá —acionando a Feema. Além disso, notificou o núcleo Niterói da Procuradoria da República.

Elenco parado
O ator/cantor Fábio Júnior, por exemplo, foi convidado para viver um dos coronéis da novela, com salário de R$ 10 mil. Ele até agora não respondeu.

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