São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Eles sabem o que fazem

Pesquisa Datafolha publicada hoje revela que mais da metade dos congressistas brasileiros pelo menos ouve a voz das ruas. Na opinião de 57% deles, é corrente entre a população a idéia de que senadores e deputados usam os cargos para a obtenção de favores e não trabalham. A maioria dos legisladores federais se aproxima pelo menos uma vez de seus eleitores quando admite que a culpa pela péssima impressão que causam é deles mesmos, ou de seus antecessores imediatos (novamente eles mesmos, em 47% dos casos na Câmara).
Pode parecer agressivo perguntar se essa espantosa autoconsciência é um desplante cínico ou um surpreendente desejo de mudar de atitude. É de se temer pelo pior quando considerada a pressão da nova legislatura pela instalação de um balcão de trocas por parte do Executivo. Tal volúpia ficou evidente quando Fernando Henrique Cardoso se dispôs a dar ouvidos à reivindicação parlamentar: imediatamente formou-se uma fila diante do gabinete presidencial.
Se é disseminada a consciência de que repercutem muito mal os hábitos legislativos dos últimos tempos, é também ainda comum entre deputados e senadores de diversas extrações a atitude de procurar bodes expiatórios para os próprios pecados. Recorrem ao expediente tanto os presidenciais tucanos, durante algum tempo tidos como renovadores da política nacional, como aqueles que tradicionalmente são acusados das práticas mais detestadas pela população. Representantes do PSDB (42%), PFL (44%) e parlamentares nordestinos (36%) estão entre os que mais imputam à imprensa a responsabilidade pela má fama que angariaram.
A pesquisa mostrou também que a ínfima minoria (3%) se autodefiniu como de direita, rótulo que identifica carrascos das aspirações sociais da população. O Datafolha mostra assim que deputados e senadores têm antenas ligadas à opinião pública, ou a pelo menos parte dela. Falta agora que a maior parte dos eleitores demonstre que conhecem o desvelo dos parlamentares em relação a sua imagem. Cobranças diretas e ameaças de lhes negar o voto podem fazer com que eles olhem duas vezes no espelho antes de sair para um escândalo.

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