São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Caos e transparência

Mesmo aceitando que a situação deixada pelas administrações Quércia e Fleury seja calamitosa, as previsões feitas pelo governador Mário Covas para o déficit deste ano do Estado de São Paulo são surpreendentes. Um rombo de R$ 12 bilhões sobre receitas estimadas em R$ 15 bilhões significa 80% de déficit. E o atual governo nem sequer pretende empreender grandes projetos.
Essa espantosa conta para apenas um ano parece desproporcional mesmo face ao legado de má administração nos mandatos passados. O estoque da dívida do Estado com o Banespa, por exemplo, é da ordem de R$ 8 bilhões. Se não quiser deixar a impressão de que está exagerando nas dificuldades herdadas para engrandecer seus próprios feitos —ou justificar suas insuficiências—, o governador Mário Covas precisa esclarecer e detalhar a origem dos números apresentados.
Deve-se reconhecer que o peso da dívida do Estado recaiu fortemente sobre o orçamento deste ano. Desde o final de 1994 estão previstos desembolsos de R$ 3 bilhões somente por conta do serviço financeiro. De fato, Fleury praticamente não amortizou os débitos recebidos do governo Quércia. No último governo, a dívida total passou de US$ 7,4 bilhões para cerca de US$ 31 bilhões.
E o desafio enfrentado pelo governo atual não se resume às contas da administração direta. As dívidas que os mandatários anteriores permitiram às empresas estatais fazer —se é que não as ordenaram diretamente— são também graves distorções cuja solução não pode ser eternamente postergada.
O endividamento descontrolado do passado avançou a ponto de forçar o Banco Central a socorrer o Banespa e em seguida intervir em sua administração. Mas erros alheios não sancionam o desempenho dos que os sucedem.
Ainda que existam fatos que possam corroborar o sentido geral das afirmações do governador, a transparência nas contas de sua administração é imprescindível. Na política, a realidade e o discurso trocam de lugar com muita frequência. Só um amplo acesso aos dados do Estado pode assegurar a credibilidade do governo.

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