São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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San Francisco urgente

MARIA ERCILIA
ENVIADA ESPECIAL A SAN FRANCISCO

San Francisco é mesmo a Nossa Senhora de Aparecida dos gays, dos hippies e agora dos interneteiros. Aqui todos os cartões vêm com e-mail, em alguns bares basta pôr uma moedinha no computador para se ligar na rede. Só nesta semana, os dois jornais gratuitos locais tinham Internet na capa. O SFNews, mais conservador, falava de um casal que foi preso por supostamente distribuir pornografia na rede. O Guardian, liberal, publicou uma edição contra a censura na Internet.
Quarta-feira passada teve o pré-lançamento do game "Johnny Mnemonic", na New Media, uma feira de multimídia e redes em Los Angeles. Johnny Mnemonic é um game baseado em história de William Gibson (autor de "Neuromancer" e criador da palavra "cyberspace") e produzido pela Propaganda Code. É totalmente em vídeo, não tem nenhum ícone na tela para atrapalhar, e lembra muito o clima de "Blade Runner". Johnny é um mensageiro que transporta programas em seu cérebro, já que no futuro seria hipoteticamente muito perigoso transmitir informação através de redes. Ai que ironia, um mensageiro a pé a essas alturas.
A produtora de filmes Tristar também deve lançar um filme "Johnny Mnemonic", com Keanu Reeves. Vai ser aquela multicoisa, veja o filme, compre o game etc. E pelas fofocas que circulam na ponte San Francisco/Los Angeles vem aí toda uma estação de filmes sobre Internet. A Columbia prepara um chamado "The Net", com Sandra Bullock (a moça que dirigia o ônibus em "Velocidade Máxima"). A MGM deve lançar um filme sobre hackers, e a Disney, um sobre "online chats" (conversas por computador).
Censura
Está causando polêmica aqui um projeto de lei que tramita no Congresso, a Senate Bill 314, apelidada de Exon Bill (nome do senador responsável por ela, James Exon), ou Communications Decency Act of 1995. Esta lei responsabilizaria os provedores de serviços online pelo material que circula neles. O resultado é que material por exemplo pornográfico ou "subversivo" acabaria tendo de ser lido e discriminado pelos administradores dos serviços. Ou seja, censura. A S. 314 vai ser votada nesta quinta, e uma série de associações, entre elas a American Civil Liberties Union e a EFF (Electronic Frontier Foundation), está se mobilizando contra ela. Não dá para imaginar o que uma lei desse tipo faria com o tráfego da Internet nos EUA. Imagine ler e filtrar todas as mensagens que passam por um serviço online ou BBS todos os dias; é praticamente a mesma coisa que pedir a uma companhia telefônica que monitore as conversas de seus usuários. Isso ia acabar com a rapidez e fluidez da comunicação na Internet. O que torna complicado legislar sobre liberdade na comunicação por computador é a combinação de público e privado peculiar a este meio. Com a mesma facilidade com que pega um telefone para bater papo com um amigo, um usuário pode atingir milhões de pessoas. Essa facilidade é um dos aspectos mais fascinantes da Internet, mas parece ter virado uma ameaça de uma hora para outra. As últimas tentativas de regulamentação da comunicação por computador nos EUA parecem fruto de puro medo, sem nenhuma interferência da lógica. Tomara que a S. 314 não se torne lei.
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