São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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Países da AL financiam co-produções

HELENA SALEM
ESPECIAL PARA FOLHA, DE CARTAGENA

As co-produções entre os vários países da América Latina podem se tornar uma forma de viabilizar o cinema no continente.
É o que emerge do 35º Festival Internacional de Cinema de Cartagena, na Colômbia, que reuniu cineastas e produtores de toda a América Latina e se encerrou na semana passada.
"Já não se pode fazer filme num só país. Nem na Europa e a partir deste ano nem nos EUA", disse o produtor colombiano de origem italiana Sandro Silvestri, durante o seminário "Tendências e oportunidades da indústria cinematográfica atual", promovido pela Motion Picture Association.
O cineasta e produtor colombiano Ciro Durán explicou a importância do recém-formado Grupo 3, constituído por produtores do México, Venezuela e Colômbia.
O G-3 deverá, porém, tornar-se em breve o G-4, com a anunciada adesão do Chile. "O ingresso do Chile vai diminuir o investimento para cada país e permitir uma ampliação do trabalho, com melhores perspectivas", disse Durán.
O primeiro filme do G-3 acaba de ficar pronto. Trata-se de "Besame mucho", do venezuelano Philippe Toledann, com capital, atores e técnicos colombianos, mexicanos e da Venezuela. Isso garante a nacionalidade dos três países os filmes produzidos pelo G-3.
Outros dois projetos estão a caminho, incluindo um dirigido pelo mesmo Ciro Durán, "La nave de los sue¤os". Segundo Durán, o Brasil também está negociando sua participação no G-3, através de alguns produtores (entre eles, Zelito Viana, da Mapa Filmes).
Até a eclosão da recente crise econômica, o México —através do Instituto Nacional de Cinema Mexicano— vinha exercendo um importante papel de fomento em várias cinematografias latinas.
"Jonás y la Ballena Rosada", de Juan Carlos Valdivia, surpreendente filme da Bolívia, tem parte de sua produção mexicana.
"Não existe mais, em nenhum país no mundo, um filme que se pague apenas em seu próprio território", afirmou ainda o produtor Sandro Silvestri. "Até os EUA, desde o ano passado, também passaram a ter mais de 50% de sua receita fora do país", afirmou.
Esse dado foi confirmado pelo vice-presidente da Motion Picture Association para a América Latina, Steve Solot, que conduziu o seminário. "De 51% a 52% das rendas dos filmes americanos desde 94 vêm do exterior", afirmou.
Solot destacou a importância da nova Lei do Audiovisual brasileira, revelando que ela tem servido como um exemplo para a própria Motion Picture na sua relação com outros países da América Latina.
A lei prevê a aplicação em produções nacionais de parte do imposto pago pelas empresas estrangeiras ao governo brasileiro (sobre a remessa dos lucros de seus filmes exibidos no Brasil).
É o caso do próximo filme de Carlos Diegues, "Tieta do agreste", feito em co-produção com a Columbia Pictures.
"Estamos mostrando ao Instituto Nacional de Cinema Mexicano as vantagens da lei brasileira e a possibilidade de ela ser adaptada ao México", disse Solot.
"Não queremos mais o conceito de um mercado dominado pelos americanos, tudo está mudando. Trata-se de um só mercado para todos. E se o mercado vai bem para um, deve ir para os demais", afirmou o americano.
Apesar dos problemas e dificuldades, o Festival de Cartagena revelou que a produção latino-americana não só se mantém viva como está até se expandindo.
Além da Bolívia, que realizou seu primeiro filme em cinco anos (mais três estão em produção), outros três países de reduzida expressão cinematográfica se fizeram representar no festival: o Uruguai, com "El Dirigible" de Pablo Dulta; o Paraguai, com "Miss Amerigua", de Luis Vera; e até a pequena Guatemala, com "El Silencio de Neto", de Luis Argueta, primeiro filme nacional em toda a história do país.

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