São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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Publicidade perdulária

Gastos oficiais em publicidade já são questionáveis por si próprios. Mas, quando se mostram crescentes, e em meio a uma conjuntura que exige austeridade, tornam-se um verdadeiro acinte. Apontam um dedo acusador para governos mais interessados em dourar sua imagem do que em responder às necessidades maiores do país.
Lamentavelmente, dados de uma recente pesquisa da Nielsen mostram que foi exatamente isso que ocorreu no Brasil. As despesas oficiais dos dez maiores anunciantes da administração federal direta e indireta quase triplicaram em 94 face a 93. Atingiram US$ 210 milhões.
Infelizmente, não surpreende constatar que o mesmo deplorável fenômeno tenha se verificado também no âmbito dos Estados e municípios, cujos dez maiores anunciantes catapultaram os gastos publicitários em 78% de 93 para 94.
O resultado dessa orgia de propaganda oficial foi que o poder público brasileiro, em todos os seus níveis, e as estatais mantiveram em 94 o posto de segundo maior anunciante do país. Gastaram US$ 957 milhões, atrás apenas do comércio de varejo. É uma aberração.
É verdade que na sondagem incluem-se estatais que concorrem no mercado. Se devem ou não ser privatizadas, é uma outra discussão. Mas, uma vez que existem, é razoável que anunciem para se manter competitivas.
Esse argumento não justifica porém o enorme salto nos gastos com publicidade oficial de um ano para outro, nem o fato de que estatais sem concorrentes esbanjem recursos com publicidade. Aliás, no ano passado, ficou com a monopolista Telebrás o troféu de anunciante mais perdulário da esfera federal, com despesas de US$ 49 milhões.
Já é grave o poder público não dar o exemplo de contenção que deveria, mas é pior ainda fazer exatamente o oposto, aumentando seus gastos publicitários. Está nas mãos das autoridades de todas as esferas reverter essa tendência viciada. Será um sinal talvez pequeno, mas sem dúvida eloquente da sua real disposição —ou não— de promover a necessária reformulação do setor público brasileiro.

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