São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 1995
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Um anel viário contra o caos

ELVIO ALIPRANDI

Gigantescos engarrafamentos nas marginais, velocidade média baixíssima nos principais corredores viários da cidade, partículas de monóxido de carbono em concentrações insuportáveis, pessoas desmaiando e, sem exagero, morrendo no meio da rua por excesso de poluição. O cenário, digno da melhor tradição do cinema de catástrofe, poderá se tornar realidade a qualquer momento em São Paulo.
Se nossas autoridades não acordarem, em cinco ou dez anos, assistirmos ao vivo e em cores a engarrafamentos de São Paulo a Santos ou Guarujá, de Campinas a Santos ou, quem sabe, veremos a via Dutra transformar-se numa incalculável fila de caminhões, automóveis e ônibus de Guarulhos até a avenida Brasil, na entrada do Rio de Janeiro.
Teremos então, por inépcia e omissão do poder público, concretizado o que apenas a ficção de Júlio Cortázar imaginara antes, numa genial crítica ao mundo moderno ao descrever um monumental engarrafamento que começa em Paris e se estende por toda a França. Impotentes diante de tal situação, as personagens do conto de Cortázar simplesmente continuam a viver, transformando seus automóveis em casas.
Para evitar que tal pesadelo se torne uma realidade caótica, é necessário que governo, iniciativa privada, comunidade e os meios de comunicação retomem imediatamente a discussão do grande anel viário, um complexo de vias, pontes e viadutos de cerca de 170 km de extensão ao longo de toda a região da Grande São Paulo.
Os dados disponíveis mostram que essa obra é mais do que necessária e urgente. Atualmente, a velocidade média dos veículos nas marginais e nas estradas que dão acesso a São Paulo é de 16 km por hora. Se o governo nada fizer, em dez anos, ela cairá para a metade, 8 km por hora.
Em tal nível de velocidade média, a concentração de monóxido de carbono no ar fica insuportável. Essa média já foi atingida, com resultados desastrosos, em Tóquio e na Cidade do México. Muita gente chegou a morrer de poluição. Com as obras do grande anel, a velocidade média elevar-se-ia para 32 km por hora.
O grande anel evitaria, por exemplo, que caminhões que transportam cargas destinadas ao porto de Santos passassem por São Paulo ou que caminhões com cargas diversas para outros Estados entrassem na região metropolitana.
E não se use como desculpa a escassez de recursos para obra de tal vulto. Eles existem. No Bird, no BID e no BNDES ou na iniciativa privada.
Recentemente, uma grande empresa privada italiana financiou parte das obras do anel viário de Milão. Em troca a empresa ganhou o direito de explorar durante certo tempo uma espécie de pedágio. Por que não fazer o mesmo aqui?

ELVIO ALOPRANDI, 59, empresário, é presidente eleito da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

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