São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Déficit federal cresce 456% no 1º bimestre

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O déficit acumulado do governo federal nos dois primeiros meses deste ano foi 456% superior ao de idêntico período de 1994.
Essa informação, que consta do número de março dos "Indicadores Iesp" (Instituto de Economia do Setor Público), ontem lançados, contradiz o discurso oficial, voltado para a austeridade.
O crescimento do déficit deve-se, acima de tudo, aos maiores gastos com juros da dívida interna.
Mas mesmo o chamado déficit não-financeiro (que exclui os juros) dobrou no período.
"O que mais chama a atenção é o déficit não-financeiro", diz Sérgio Luiz Cerqueira Silva, especialista do Iesp em finanças públicas.
O aumento do gasto público ocorreu igualmente na rubrica de pagamento ao funcionalismo e no item custeio/investimentos.
Pior: os gastos com a dívida interna só tendem a explodir com a elevação exponencial dos juros que se seguiu à mudança no câmbio. Já de 1993 para 1994, o gasto com juros mais do que duplicara, passando de R$ 2,3 bilhões para R$ 5,1 bilhões.
Mas os indicadores ontem divulgados, por se referirem só a janeiro e fevereiro, ainda não captam o novo salto a partir de março.
O gasto público tem relação direta com o comportamento da economia, lembra Antônio Lanzana, chefe do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Com o desaquecimento do consumo, a demanda perde uma de suas três pernas. Uma segunda, as exportações, pode ser beneficiada pela desvalorização do real.
A terceira, exatamente o gasto público, continua presente, o que torna uma incógnita a desaceleração da economia, desejada pelo governo para evitar o reaquecimento da inflação.
Até a mudança cambial, a expectativa na indústria paulista era otimista: 78% de 410 indústrias pesquisadas pela Fiesp diziam que as encomendas para março/abril estavam acima das expectativas (16%) ou dentro delas (62%).
O próprio governo, conforme a Folha apurou junto ao Ministério da Fazenda, temia, até duas semanas atrás, uma bolha de consumo.
Depois da crise cambial, a convergência de opiniões na equipe governamental é no sentido de achar que as medidas anticonsumo já tomadas começam a produzir o efeito de desacelerar a economia.
Mas a Fazenda admite que o aumento dos juros acaba não atuando como fator essencial para o desejado desaquecimento. "No Brasil, juros elevados e certo nível de atividade econômica são compatíveis", ouviu a Folha na Fazenda.
Nesse panorama, o aumento dos juros funciona como uma espécie de tiro no próprio pé: o governo apenas gasta mais com o pagamento de sua dívida.

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