São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995 |
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"Epidemia" sobrepõe aventura à ciência em história de vírus fatal
DANIELA ROCHA
Primeiro lugar nas bilheterias americanas desde a sua estréia, na sexta-feira da semana passada, o filme apresenta a história de um novo e poderoso vírus, capaz de matar em poucas horas, que foi mantido em segredo pelo governo americano por anos para ser utilizado como arma bioquímica. Em tempos de Aids e de enormes avanços no setor da engenharia genética para fins nem sempre bem-intencionados, o filme não poderia ser mais atual. Mais que isso, "Epidemia" mostra que a grande preocupação do momento é ter conhecimento aprofundado sobre diferentes vírus, sua forma de contágio e suas possibilidades de mutação e manifestação. Ter o controle de doenças e tecnologia para sua cura é sinônimo de poder político. O assunto, em princípio "pesado", conquista a platéia por meio de elementos hollywoodianos explícitos em seu script, criado por Laurence Dworet e Robert Roy Pool: algum romance, "racha" de helicópteros, heróis e vilões, vitória do bem contra o mal. Essa opção sobrepôs a aventura ao conteúdo científico, que tinha tudo para ser o filão da história. Dustin Hoffman, em ótima atuação, faz o papel de dr. Sam Daniels, cientista do Exército americano que é enviado ao Zaire, na África, para estudar uma nova misteriosa doença. A calamidade africana assusta o espectador americano e o coloca em pânico ao saber que aquela doença se espalha com tamanha facilidade e, fatalmente, atingirá a América. Enquanto esteve na África, o vírus, conhecido pelos cientistas americanos, foi mantido em segredo, e o soro para o combate da doença idem, já que ele poderia levar por água abaixo a descoberta de uma arma biológica imbatível. O único que pode salvar a humanidade desse desastre é dr. Daniels, que paralelamente vive uma crise com o final de seu casamento —com a também cientista Dr. Roberta Keough (interpretada por Rene Russo). Dr. Daniels tem que combater não menos do que três inimigos: o poder militar, a Casa Branca e o macaco, hospedeiro da doença trazido da África à América para espalhar o horror. A captura do macaco hospedeiro significaria a salvação: só com ele o antígeno seria descoberto. Quando a doença vira epidemia —o vírus se espalha pelo ar— em Cedar Creek, na Califórnia, o governo americano decide bombardear a cidade e sua população para pôr fim ao desastre que em curtíssimo prazo pode se espalhar por todo o país. Com fabuloso jogo de cintura, dr. Daniels consegue lutar contra todos, encontrando tempo até para ir a uma estação de TV, entrando ao vivo no ar para pedir ajuda na localização do macaco hospedeiro. Claro que a resposta chega instantaneamente, e o macaco é localizado, mas dificilmente capturado. Tudo isso ocorre em uma corrida contra o relógio. Se faltou algum ingrediente científico ou se existe conspiração em exagero, só se constata depois do filme. Com uma produção impecável e fotografia (de Michael Ballhaus) eficiente, as imagens de ação são de tirar o fôlego e o filme prende o espectador em suas mais de duas horas de duração. Poderia ser mais, mas "Epidemia" é puro entretenimento. Texto Anterior: 'Festival de bolso' acolhe revelações em NY Próximo Texto: Callas e Benjamin Britten são os destaques de novo pacote da EMI Índice |
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