São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Memorial recebe 3ª Bienal de Gravura

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

No que depender da 3ª Bienal de Gravura da Espanha, que será inaugura amanhã no Memorial da América Latina, o suporte não está em crise. Muito pelo contrário.
Testemunha dessa tese é o crescimento da própria Bienal de Gravura, que, em sua primeira edição, em 1989, contou com cerca de 300 trabalhos inscritos. O número hoje pulou para 700, entre obras vindas de 30 países.
Patrocinado pela Caixa de Aforros Provincial de Ourense, órgão sem fins lucrativos, ligado à municipalidade de Ourense, região da Galícia, a iniciativa da Bienal surgiu como uma homenagem ao renomado artista Julio Prieto Nespereira, morto aos 95 anos.
Depois de Goya, ele é considerado o maior mestre da gravura da Espanha. "Julio Pietro é emblemático da cultura galícia", explica o curador.
D. Carlos Quessada atribui a popularidade crescente da gravura a uma constante permissão para a inovação técnica.
Por exemplo, nesta 3ª Bienal, o Prêmio Bronze foi ganho pelo jovem artista espanhol Julio Leon, por uma inovação no suporte: na obra "Alhambra" ele usa como base de sua gravuras em metal, uma placa de ferro oxidada.
Os prêmios Prata e Ouro, respectivamente, foram dados a Silvana Blasbalg, da Argentina, com a obra "Sociedade Subterrânea 2", em ponta seca e estêncil, e a Jacek Szewczyk, professor de gravura polonês, mestre da água-forte, com seu "Especialmente Estreito Trilho de Trem".
Talhada nos moldes de um Salão de Arte, esta Bienal aceita inscrições de todas as partes do mundo, submete os trabalhos a um júri, especialmente composto por gravadores e professores de gravura, e premia, hierarquicamente, as três melhores obras.
Na decisão de criar uma Bienal especialmente dedicada à gravura, a prefeitura da Galícia presta uma homenagem a uma arte que privilegia a técnica, o aprendizado minucioso.
"A gravura não veio do nada. Foi desenvolvida com muita paciência, seguindo uma tradição forte, sobretudo do centro da Europa, onde nasceu. A gravura surgiu na Polônia, Alemanha, República Checa e Eslováquia, Itália, França e Inglaterra. Desses países formam-se muitos artistas e saem muitos mestres que levam essa linguagem para outros países", diz Quessada.
"A gravura envolve muita paciência e, ao mesmo tempo, é sempre uma surpresa. O segredo dela é sempre uma dose de imprevisibilidade. Nunca se sabe como será o resultado final da aplicação de tinta", ressalta.
Na América Latina, o país que mais submete seus trabalhos à Bienal da Gravura é a Argentina, que até essa 3ª edição apresentou 62 trabalhos. Em seguida vem o Chile, com 28, e o Brasil, com 27 obras.
A participação brasileira este ano, resume-se adois jovens artistas cariocas: Joao Viannei, 29, e Vera Rigo, 33.
Vera Rigo apresenta a obra em água forte, intitulada "A", enquanto João Viannei segue a tradição brasileira da xilogravura, com uma série de peixes estilizados.
No panorama da 3ª Bienal, que exibe 113 obras de artistas selecionados no concurso e mais 31 trabalhos de gravuristas espanhóis convidados, é possível pinçar algumas tendências internacionais.
Como observa D. Carlos Quessada, "obervamos uma volta à figuração. O expressionismo selvagem e a abstração, que tiveram força até o final dos anos 80, estão agora em decadência. A 1ª Bienal, em 1989, apresentava 80% de obras abstratas, a 2ª, 60%. Nesta 3ª edição, a percentagem de abstração é inferior a 50%".
A intenção da Bienal da Gravura é tornar-se uma exposição internacional itinerante. Depois da exposição em São Paulo, que fica em cartaz até o dia 30 de abril, e é a primeira que acontece fora da Espanha, a Bienal volta ao país para uma mostra em Santiago de Compostela. De lá, no outono deste ano, vai a Caracas, Venezuela.

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