São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
Texto Anterior | Índice

Religiões proliferam no Japão

DA "FRANCE PRESSE"

Novas seitas religiosas se multiplicaram nos últimos 20 anos no Japão, onde a competição profissional e o intenso ritmo de trabalho levam muitas pessoas a buscarem "consolo espiritua"l.
Até ser implicada no atentado terrorista cometido no metrô de Tóquio na última segunda-feira, a seita Aum Shinrikyo era apenas mais um entre os mais de 180 mil grupos religiosos que proliferaram recentemente no país.
Isolado geograficamente dos maiores centros religiosos e filosóficos do mundo, o Japão tem uma tradição de sectarismo religioso. Algumas seitas de origem budista, poderosas e prósperas, fazem parte da vida cotidiana dos habitantes do arquipélago há vários séculos.
O surgimento de novas seitas se acelerou nos anos 70, paralelamente à aceleração do crescimento econômico do país.
"As pessoas estão sempre submetidas a pressões, sempre competindo, desde a escola até as empresas em que trabalham", disse Hiroo Takagi, professor de religião na Universidade de Tóquio.
Para ele, "são muitas as pessoas que buscam outros mundos, onde pensam que receberão ajuda espiritua"l.
A Agência de Assuntos Culturais do governo japonês registrou 180 mil grupos religiosos no país. Desse total, 1.600 organizações são "novas" e não têm nenhum vínculo com as religiões tradicionalmente estabelecidas.
"A solidão gerada pela sociedade moderna pode conduzir algumas pessoas, especialmente os jovens, a entrar nessas novas seitas", afirmou o professor Yoshimichi Undo, da universidade Tsukushi Gakuen.
"Os japoneses estão carregados de bens materiais, mas as possibilidades de comunicar-se com outras pessoas são limitadas. Ao aderir a uma das novas religiões, em que os fiéis vivem e oram juntos, elas podem facilmente compartilhar compaixão e senso de união", disse Undo.
Algumas das seitas mais ricas recorrem à tecnologia mais moderna existente. O grupo Kofuku no Kagaku, por exemplo, mantém seus 40 mil integrantes em contato permanente através de computadores ligados por satélite.
Até a Segunda Guerra Mundial, a religião oficial do Japão era o xintoísmo, uma forma de animismo centrada na figura do imperador. A Constituição imposta ao país pelos EUA depois da guerra separou Estado e religião.
Oficialmente, o imperador deixou de ser considerado um deus e passou a ter apenas o status de chefe de Estado, como nas monarquias parlamentares européias.
Muitos japoneses, porém, continuam a atribuir caráter divino à figura do imperador. Nesse caso, o fervor religioso se confunde com o nacionalismo político.
Organizações de extrema direita responsabilizadas por vários atentados terroristas nos últimos anos frequentemente mencionam a lealdade ao imperador como uma de suas motivações.

Texto Anterior: Líder do grupo fala em suicídio coletivo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.