São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Melhor cinema do mundo fica no bulevar

DO "THE NEW YORK TIMES"

Atravessando o bulevar Hollywood no sinal (quem não obedece os sinais de trânsito pode ser multado) você chega ao Teatro Chinês, uma extravagância de 1927.
O colorido exuberante e o excesso de ornamentos dão ao prédio um ar de exotismo exagerado: a fachada de concreto verde em forma de ferradura é coroada por telhados negros e íngremes de mansarda e ligada à rua por um toldo vermelho-sangue.
Assistindo a qualquer filme na sala principal você descobrirá porque este lugar é chamado de "Palácio do Cinema".
A tela é gigantesca, o som impecável e o teto da enorme sala é laqueado em preto e vermelho e pintado à mão com motivos intrincados representando dragões.
No pavimento da entrada do cinema estão impressos mãos e pés famosos. Todo mundo, de Charles Laughton à tripulação da Enterprise, deixou suas digitais estampadas nesta calçada.
Em posições que lembram às de um corredor antes de uma competição, visitantes de todo o mundo deixam escapar exclamações em vários idiomas ao tentar preencher as pegadas de seus artistas prediletos. "Tom Mix usava botas de caubói do meu tamanho", se surpreendia um deles.

El Capitán
Em 1991 a Walt Disney Company restaurou outro cinema excepcional. Localizado diagonalmente em relação ao Teatro Chinês, o El Capitán também data do final dos anos 20.
Ele tem um design espanhol colonial-rococó com cada centímetro de todas as superfícies, internas e externas, articuladas por motivos hexagonais pintados com cores brilhantes e muito dourado.
No final desta quadra, atravessando a avenida Highland, fica o Museu da Beleza Max Factor, em um prédio art déco que parece o interior de uma caixinha de jóias.
As exposições e um vídeo explicam como os magnatas dos cosméticos ajudaram a criar o ideal feminino de Hollywood nas décadas de 30, 40 e 50.
Essencial para esta tarefa, somos informados, foi o calibrador de beleza: um emaranhado de varetas e pinos em forma de capacete que envolvia a cabeça da mulher e indicava como "deveriam" ser suas feições.
Na seção de perucas estão expostas cabeleiras usadas para retocar o "telhado" de gente como John Wayne, Frank Sinatra e até o incrível Hulk.
Uma quadra para leste, na esquina da avenida McCadeen com o bulevar Hollywood, fica o Centro de Testes da Igreja de Cientologia, onde os visitantes recebem um questionário detalhado sobre seu comportamento, gostos e antipatias para determinar seu potencial para a felicidade.
Hollywood é a sede mundial desta igreja, que é proprietária de uma fatia considerável dos imóveis da área.

Gastronomia histórica
Quem quiser fazer um passeio de volta ao passado pelo bulevar talvez aprecie experimentar o que as pessoas jantavam antes que o queijo "tofu" mudasse para sempre o tipo de comida servida nos restaurantes da cidade.
Algumas quadras para leste, entre as avenidas Las Palmas e Cherokee, do lado norte da rua, fica o Musso & Frank Grill.
É o restaurante mais antigo de Hollywood e que mudou muito pouco nas últimas décadas. Seu cardápio continua baseado na culinária norte-americana e a decoração com banquetas vermelhas e panelas escuras remontam ao começo do século.
No meio da quadra seguinte, a livraria Larry Edmunds Bookshop tem uma coleção volumosa de livros relacionados ao mundo dos espetáculos, filmes e fotogramas.
Esta loja apinhada, com sua grande variedade de artigos, meticulosamente etiquetados à maneira de um catálogo de fichas de escola primária, frequentemente proporciona o material inicial de pesquisa para projetos de roteiristas.
No final do bloco seguinte, esquina com a rua Hudson, fica um extraordinário mural homenageando Dolores Del Rio.
A cabeça da atriz, representada artisticamente em uma profusão de cores tropicais, é cercada de cenas em preto-e-branco de vários de seus mais de 50 filmes.
Muito menos elegante, mas não menos divertido é o Museu da Lingerie de Hollywood de Frederick, localizado no lado sul do bulevar, entre a rua Hudson e a avenida Cherokee.
Muitas das peças expostas podem ser adquiridas. Um anúncio no interior da loja tenta convencer as clientes. "Entre parecendo um Chevy e saia como um Cadillac".
Entre as peças mais famosas na coleção do museu estão lingeries utilizadas por Lana Turner, Joan Crawford e Madonna. O acervo começou a ser montado em 1946.

Moda
Roupas berrantes e escandalosas são o destaque em outra parte do bulevar, especialmente onde as ruas Playmates e Wilcox formam uma esquina.
Lá é possível comprar malhas justas de rede de pesca, culotes de lamê dourado, jeans de plástico e cotas de malha frente-única.
Em geral as lojas do bulevar são especializadas em roupas brilhantes e curtas. Os turistas podem se perguntar quantos biquínis de correia de couro esses lugares precisam vender para dar conta da própria hipoteca.
Também deve haver mercado para artigos como relógios do Elvis Presley, dos quais há grandes estoques.
Embora esse trecho da cidade interesse a turistas, muitos moradores locais fazem compras lá.
A lendária esquina do bulevar Hollywood com a rua Vine é o destaque da quadra seguinte em direção ao leste.
Nas décadas de 30 e 40 acreditava-se que neste local um astro em início de carreira tinha boas chances de ser visto pelos diretores dos estúdios próximos que frequentavam restaurantes como o Sardi's e o Brown Derby, na Vine.
Hoje a esquina é um marco para as milhares de pessoas que vieram para Hollywood em busca do tipo de vida que viram nos filmes e na televisão.
A esquina é, fora isso, sem atrativos. Pode-se imaginar o alívio dos recém-chegados ao descobrir que a cidade que adotaram não é, no final das contas, tão assustadora assim.

Tradução de Gladys Wiesel

Texto Anterior: Saiba onde ficam as atrações locais
Próximo Texto: Estúdios migraram em busca do Sol local
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.