São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Paraná cria fórmula para 'lotear' cargos do governo

LUCIO VAZ; JOMAR MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A promessa de distribuição de cargos federais está provocando um verdadeiro loteamento nas bancadas que apóiam o governo no Congresso.
Mais adiantada, a bancada do Paraná criou um processo de rateio através de pontuação que funciona como espécie de moeda para aquisição de cargos.
Os 18 deputados paranaenses do PFL, PTB, PP e até do PDT já realizaram três reuniões para atribuírem valor a cerca de 40 cargos de direção em órgãos federais e calcularem os bônus de cada pretendente.
A metodologia adotada pela bancada do Paraná foi criada pelo deputado Basílio Villani (PPR-PR), ex-vice-líder do governo Collor. Ele considera o sistema de pontuação mais civilizado e justo que os sorteios ou as indicações individuais, adotadas em outros Estados.
Pelo método de Villani, primeiro os parlamentares preencheram formulários atribuindo um valor (de dez a cem pontos) para cada cargo.
Encontrada a média aritmética, a presidência da Telepar (Companhia de Telecomunicações do Paraná), por exemplo, recebeu cem pontos.
Na etapa seguinte, somaram-se os pontos de todos os cargos e dividiu-se o total pelo número de deputados.
Cada parlamentar ficou com um número fixo de pontos que agora serão utilizados para "adquirir" o cargos de menor "valor" ou associar-se a outros para conseguir os de valores mais altos.
Quem optou por cargos menos valorizados, como a delegacia do Incra, pode fazer indicações para mais de um cargo. Ao final, toda a bancada assinará as reivindicações de todos que serão encaminhadas ao Planalto pelos ministros Andrade Vieira e Reinhold Stephanes.
"O ministro Andrade Vieira é o nosso mestre", disse o deputado José Borba (PTB-PR), que convocou alguns deputados para as reuniões em nome do ministro da Agricultura.
"Tudo resolvido"
Villani justificou o seu método. "Quem nomeia são os deputados mesmo. Como sempre fui de ter critérios, preparei esta fórmula. Se o governo adotasse esta metodologia em todos os Estados, já estava tudo resolvido".
Ex-alidado dos governos José Sarney e Fernando Collor de Mello, Villani conta que já foram usados métodos "menos racionais" na distribuição de cargos.
"Em 86, no governo Sarney, estive numa reunião em que usaram uma cumbuca. Os números eram sacados um a um da cumbuca. Quando saiu o meu, o número 18, eu disse que queria tal cargo", conta o deputado. A fórmula gerou muitos conflitos
"Estão fazendo um bingão com os cargos públicos, uma vergonha", criticou o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que não foi convidado para as reuniões e cujo irmão, o deputado Maurício Requião, saiu do último encontro após ouvir que os cargos pretendidos pelo ministro Andrade Vieira eram intocáveis.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio de Oliveira (PE), disse que recomendou aos 27 coordenadores de bancadas estaduais que entrem em contato com os representantes dos outros partidos para acertar a partilha de cargos.
Os deputados e senadores de Alagoas já apresentaram uma lista consensual ao presidente da República. Esperam pela definição dos demais Estados.
(Lucio Vaz e Jomar Morais)

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