São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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FHC aponta aliança espúria de esquerda e especuladores

GABRIELA WOLTHERS
ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOÃO DO JAGUARIBE

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem em São João do Jaguaribe, a 200 km de Fortaleza (CE), que vai denunciar "as relações espúrias, as relações perigosas entre a falsa esquerda e os especuladores da Bolsa (de Valores)".
FHC chegou à fazenda Charneca, onde aconteceu a solenidade de entrega de títulos provisórios de posse de terra a 217 famílias da região, às 11h50. Cerca de 350 policiais militares foram espalhados pelo local.
Segundo FHC, "a maioria esmagadora" que apóia o governo "não quer nenhuma aliança espúria entre uma agitaçãozinha aqui e uma mexida de câmbio lá".
FHC se referia às manifestações contrárias ao seu governo ocorridas na sexta-feira da semana passada no Rio de Janeiro, quarta-feira em Brasília e quinta-feira (anteontem) em Fortaleza.
FHC também aproveitou para criticar o senador José Eduardo Dutra (PT-SE), que acusou o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, de ter dado informações privilegiadas sobre a mudança de câmbio ao mercado financeiro.
"Esta semana nós lutamos duramente para calar a boca de impostores, de gente que pega papel e não sabe o que está escrito nele", disse o presidente, referindo-se a documentos divulgados por Dutra.
As críticas do presidente também atingiram a "direita". "Não tem cabimento um representante do povo, qualquer que ele seja, da velha direita carcomida que no passado infelicitou o Brasil e da nova chamada esquerda, ambos sem responsabilidade, acusando sem base homens honestos, como o pessoal da equipe econômica."
O deputado Delfim Netto (PPR-SP) havia dito que houve vazamento de informação, sem citar nomes.
Antes de FHC, o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), já havia afirmado que o presidente da República está "enfrentando a mais estranha aliança" que já viu.
"É uma estranha aliança daqueles que se dizem de esquerda, inclusive a própria CUT (Central Única dos Trabalhadores), com os especuladores contra o Plano Real", disse Tasso.
"Essa falsa esquerda fornece boatos para os especuladores ganharem dinheiro na Bolsa do Rio", acrescentou.
Segundo a Polícia Militar, cerca de 1.500 pessoas assistiram à solenidade. Tasso e FHC foram aplaudidos pela maioria. Os manifestantes contrários ao governo somavam cerca de 30 pessoas. A maioria do público foi levada pelo Incra (Intituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e por prefeituras da região.
Eles chegaram a gritar slogans como "o povo não é bobo" durante o discurso de FHC. O presidente ouviu e retrucou: "O povo não é bobo, bobos são eles", disse olhando para os manifestantes.
Uma faixa, então, foi levantada com os dizeres: "Fora FHC-Tasso". O presidente novamente respondeu: "Antes do que muito de vocês tivessem nascido, eu lutava contra o regime autoritário no Brasil e pedia liberdade."
Completou em seguida: "Hoje nós a temos. E é bonito ver que qualquer pessoa pode se exprimir livremente, mesmo o absurdo."
Foi aplaudido.
A mesma faixa, de cor verde foi usada na manifestação ocorrida em frente ao teatro José de Alencar, no centro de Fortaleza, anteontem.
Vários dos manifestantes presentes ontem a São João do Jaguaribe também participaram do ato na capital cearense.
"Somos praticamente os mesmos", disse a vereadora de Fortaleza Rosa Fonseca (sem partido).
A representante da União das Mulheres Ceareanses, Regina Célia Zaneti, participou do ato ontem com um dedo da mão esquerda enfaixado —ela estava na manifestação de anteontem, que terminou em confronto com policiais.

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