São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grande prêmio da marcha à ré

JANIO DE FREITAS
GRANDE PRÊMIO DA MARCHA À RÉ

O governo volta atrás e desiste da medida provisória contendo aumentos de 200% para os seus assessores especiais, os chamados DAS-6, 5 e 4. O que não quer dizer que desistisse do aumento, a ser agora conduzido por projeto de lei, porque houve reação parlamentar ao uso de MP para adotá-lo.
O governo volta atrás e, com mais uma MP, a 947, altera a lei sancionada pelo próprio Fernando Henrique Cardoso em janeiro, a 8.981, que tratava da dedução, pelas empresas, de prejuízos passados e de gastos com previdência privada para seus empregados. Os limites das deduções foram alterados porque a "burrice nacional" demonstrou que os estabelecidos pela lei eram absurdos, a tal ponto que inviabilizavam as iniciativas (ainda tão poucas, e no entanto tão importantes) de previdência privada.
O governo volta atrás e se dispõe, ao que informa "O Globo", a reconsiderar a MP 935, aquela que recebeu uma chuvarada de críticas por resultar, na prática, em perda de estimados US$ 5 bilhões pela Previdência e pela Saúde. Foi a MP a que o ministro Adib Jatene se opôs.
O governo volta atrás e admite modificações na MP da Educação, para incorporar as sugestões de critérios mais eficazes, e não só um exame dos alunos formandos, para avaliação das universidades.
O governo volta atrás, logo depois de afirmar o oposto, e concorda com a divisão em quatro emendas distintas, propostas no Congresso, do coquetel indigesto que é o seu projeto de alterações constitucionais para modificar as aposentadorias.
Na média da semana, houve uma volta atrás por dia. Na verdade, a média diária é até maior, porque aqui só foram relacionadas voltas atrás entre segunda e quinta-feira. Não adianta adotar a explicação de que os recuos se dão porque "os políticos estão pressionando por cargos". O exame de qualquer dos recuos evidencia que sua causa foi a procedência das críticas. Na mesma medida, expõe duas características do governo. Se recua depois de criticado, é porque não se submeteu previamente à discussão, contrariando a promessa de campanha de que "tudo só será decidido depois de debate com a sociedade". Além disso, é claro que o governo está decidindo e legislando em cima da perna, sem estudos adequados e sem reflexão.

Texto Anterior: Richa quer superpoder
Próximo Texto: FHC aponta aliança espúria de esquerda e especuladores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.