São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Fernando no palanque

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A mobilização agressiva do PT está fazendo de Fernando Henrique o que, em princípio, ele não era. O presidente está perdendo a calma e lembrando, afinal, o outro.
Ontem, voltou a ser "duro" com os "derrotados", segundo a descrição das emissoras. Do pronunciamento no Ceará, mostrado na Bandeirantes, na Globo, no SBT:
— Eu não vou ceder nem um milímetro. A grito algum! A chantagem alguma!
— Denunciarei as relações espúrias, as relações perigosas, entre uma falsa esquerda e os especuladores da bolsa.
Antes, em meio à manchete do Jornal Nacional:
— Haverá aumento para cem reais do salário mínimo. Mas aumento real!
Como o outro Fernando, o presidente louvou, no interior do Nordeste, "a compreensão direta do povo". Enalteceu a comunicação direta, aquela dos grandes populistas.
Ao que parece, para além dos ataques coordenados do PT e da CUT, também os elogios de ACM ao populismo antes insuspeito estão mexendo com a cabeça de Fernando.

Caçada e crime
No mesmo SBT, a minutos de distância.

Fantasma
A Globo está jogando o que tem ou o que resta para tornar Rubens Barrichello o herdeiro de Ayrton Senna, o ídolo do Brasil. Em uma semana.
Serve tudo, qualquer coisa, da marcação ao vivo, ainda nos boxes, até a receita culinária favorita do piloto.
O locutor das provas chegou ao extremo. Narrou uma vitória de Rubens Barrichello como se fosse Ayrton Senna:
— É a última volta! Vem pra reta final, Rubinho, Rubinho, Rubinho! Rubens Barrichello do Brasil!
Entrou então a música que, há um ano, era anunciada como o hino de Ayrton Senna, até no enterro. Na guerra, desculpa-se até mesmo a morbidez.

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