São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Mercado prevê mudança da banda cambial até a virada do 1º semestre

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central conteve o movimento especulativo no câmbio e a fuga de capital do país foi refreada com a alta dos juros e a fixação de uma banda de flutuação do dólar com piso de R$ 0,86 e teto de R$ 0,93. Mas ninguém faz uma aposta firme na manutenção do teto da banda até a virada do semestre, pelo menos.
Ao aumentar de 47% ao ano para 65% a taxa de juros do dinheiro que gira por um dia no overnight, o BC procurou dar um sinal ao exportador de que o juro ficará acima da desvalorização cambial mais a taxa das linhas internacionais de financiamento ao comércio exterior, em torno de 10% ao ano.
Mais do que isso, na terça-feira passada o BC ofereceu títulos corrigidos pelo câmbio (NBC-E, Notas do Banco Central-série Especial) com prazos de três e seis meses e pagou juros de até 18,50% e 18,98% ao ano mais a variação cambial. Ele aumentou em 2,5 a 2,9 pontos percentuais a taxa que aceitou pagar no leilão anterior.
Segundo Alfredo Neves Penteado Moraes, vice-presidente do Banco ABC-Roma, o exportador poderia ter fechado uma operação de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio) de seis meses e adquirido os títulos do BC com o mesmo prazo, assegurando um ganho de quase 9% ao ano, sem precisar se preocupar com a desvalorização cambial.
Sem interesse
Mas não houve grande interesse pelo papel, já que vendeu apenas US$ 1,274 bilhão, 42% do total de US$ 3 bilhões ofertados. E os exportadores não aumentaram a oferta de dólares no mercado de câmbio com a contratação de ACC.
Pior: nos últimos dias 21, 22 e 23, as compras de importadores ficaram acima das vendas dos exportadores.
A manutenção desses déficits diários no movimento financeiro de câmbio comercial é preocupante porque eles antecipam em alguns meses o surgimento de saldos negativos na balança comercial.
O diretor de planejamento financeiro do Banco Nacional, Walter Kuroda, acha que o movimento do câmbio comercial desses dias foi atípico, já que a incerteza sobre a manutenção da banda fez os importadores anteciparem suas compras e os exportadores adiarem suas vendas.
Para Kuroda, os movimentos do BC confirmam com atos o discurso de Arida e do ministro da Fazenda, Pedro Malan, de que a banda vai durar "muito tempo".
Até quando, "só o tempo dirá", afirma Kuroda. "Ela é eterna enquanto dura", diz Moraes, parodiando o poeta e compositor Vinicius de Morais.
Sem mudança
Cláudio Lellis, diretor de tesouraria do Lloyds Bank, diz que "a taxa de juros interna é absurdamente alta e força o exportador a desovar seus dólares".
Mas se os saldos negativos no movimento financeiro de câmbio se mantiverem e até mesmo se não aparecerem superávits substanciais, novas medidas virão. Mas a última coisa que o governo fará no curto prazo será uma alteração no teto da banda, apostam esses três executivos.
A experiência do México, em dezembro passado, e a do Brasil, neste mês, mostraram que uma alteração desse tipo é explosiva. Em ambos os casos, embora em circunstâncias bem diferentes, houve fuga de capital.
"O governo ainda dispõe de muitos mecanismos fiscais e alfandegários para defender o saldo positivo da balança comercial antes de precisar mexer na taxa de câmbio", afirma Moraes.
Ele lembra que as exportações do país continuam crescendo, mas os déficits dos últimos meses apareceram por causa do crescimento mais rápido das importações.
Por isso, a sua avaliação é de que o governo adote medidas seletivas para conter as importações de produtos com maior peso na balança e que causem menor impacto na inflação. Exemplo: automóveis. (Fideo Miya)

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