São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Reservas internacionais podem cair a US$ 16 bi

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Independentemente do que o governo fizer daqui para frente, o Brasil fecha o ano com perda de reservas internacionais (o caixa em moeda forte). A avaliação é unânime entre 13 instituições financeiras ouvidas pela Folha.
As projeções colhidas mostram um teto máximo de US$ 25 bilhões e um mínimo de US$ 16 bilhões para o número final de dezembro.
A previsão mais pessimista coloca o país na rota de uma crise cambial aberta. A regra atual obriga o governo a suspender todos os pagamentos quando as reservas batem no limite de quatro meses de importações (o que equivale a US$ 12 bilhões).
O país iniciou 1995 com US$ 36 bilhões e, atualmente, dispõe de algo entre US$ 29 bilhões e US$ 30 bilhões.
Há outros consensos. Os principais são: 1) o país vai gastar reservas em 1995 para defender o Plano Real; 2) tornou-se vital gerar superávits na balança comercial (exportações maiores que importações); 3) não há possibilidade de o país gerar superávits se o atual nível de consumo se mantiver aquecido.
Superávits
Os analistas, que só falaram à Folha com a condição de que seus nomes não fossem publicados, concordam que gerar superávits comerciais passou a ser essencial por duas razões: 1) reduzir o montante do pagamento de serviços (juros, fretes, seguros etc.) a ser financiado com as reservas; 2) dar confiança ao investidor estrangeiro de que o país pode pagar seus compromissos, o que reduziria ou estancaria o ritmo de saídas.
Se as condições internacionais não se alterarem, a conta de serviços soma este ano ao redor de US$ 16 bilhões.
Na média da opinião das instituições, devem ingressar no país US$ 3 bilhões em investimentos diretos e outros US$ 2,3 bilhões em transferências (essencialmente dinheiro que os "dekasseguis" enviam para seus familiares).
Estes ingressos estão anulados pela saída de recursos, estimada em US$ 5,5 bilhões.
Resultado: a conta de serviços será financiada, em parte, pela conta comercial e, em parte, pela perda de reservas.
As divergências do mercado se mostram nas projeções para o comportamento da balança comercial.
Mesmo depois da mudança das regras cambiais, promovida de forma atabalhoada pelo Banco Central, quatro das 13 instituições consultadas continuam projetando um déficit (de até US$ 3 bilhões) para este ano.
A maioria das instituições trabalha com a idéia de um saldo comercial zerado (exportações empatam com importações); enquanto três projetam um saldo positivo entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões.
Medidas
Todas as instituições, porém, condicionam o cenário. Quanto mais pesadas (eficientes) forem as medidas adotadas pelo governo para conter o consumo, maiores são as projeções de superávit.
Isto é, nenhuma instituição acredita ser possível resolver a questão da balança comercial exclusivamente pela via da desvalorização do real —a menos que se abandone o plano de estabilização.
Não é por outra razão que continua em discussão a possibilidade de o governo adotar novas medidas: imposição de quotas para importação (carros, por exemplo), manutenção ou elevação dos juros, maior restrição do crédito e maior aperto da liquidez no sistema financeiro.
O fato é que, segundo estes analistas, existe demanda para sustentar, ao mesmo tempo, crescimento das importações e da produção interna.
No acumulado de janeiro e fevereiro, por exemplo, as exportações mostram crescimento de 7,4% em relação ao mesmo período de 1994, enquanto as importações cresceram 94%.
Em janeiro, segundo divulgou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial cresceu 16,7% sobre o mesmo mês do ano anterior. No acumulado em 12 meses, a produção industrial cresceu 6,2%.

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