São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Recessão X ajuste externo

DEMIAN FIOCCA

Dada a impressionante deterioração das contas externas, o mais racional é selecionar os itens de importação. Não faz sentido torrar os últimos bilhões de dólares em automóveis se em um ano podem estar faltando divisas para comprar petróleo, remédios ou insumos e bens de capital imprescindíveis à indústria.
Está clara a necessidade de aprofundar a revisão da política comercial e cambial. É enganoso o argumento de que o ajuste fiscal é capaz por si só de reverter o desequilíbrio externo.
A taxa de câmbio e as tarifas de importação determinam a proporção de importações em relação ao total da economia. Antes do Plano Real essa proporção era de X%. Com a valorização cambial e a redução de tarifas, essa proporção passou a Y%, entre novembro de 94 e fevereiro último.
Para reduzir o total de importações aos níveis anteriores sem mexer no câmbio e nas tarifas seria preciso, grosso modo, um corte de gastos de tal ordem que derrubasse a economia a XX% do que ela era há um ano. Felizmente isso parece impossível.
De fato, é muito mais sensato reduzir a proporção de importações da economia do que manter essa proporção e derrubar toda a economia só para reduzir o total de importações.
Em defesa de uma recessão há quem lembre que ela cria espaço para o crescimento das exportações. É verdade. Mas esse efeito é incapaz de compensar o brutal aumento do coeficiente de importações criado pela valorização cambial e pela redução de tarifas.
As medidas já tomadas para reverter a situação externa são insuficientes. Centrar discursos e esforços apenas na contenção da atividade econômica é uma vã tentativa de salvar as aparências dos que vendiam México e Argentina como o rumo do Primeiro Mundo.

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