São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Agiotas cobram juro de até 46% ao mês

MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você está precisando de dinheiro, evite obter empréstimo de agiotas que operam em escritórios espalhados pela cidade de São Paulo. Motivo: os juros cobrados chegam a níveis estratosféricos. Agiota é aquele que empresta dinheiro a juros exorbitantes.
Uma pesquisa feita pela Folha em diversos desses escritórios revela que há agiotas cobrando até 46,3% ao mês, ou 9.492% ao ano. Na melhor das hipóteses o menor juro cobrado fica em 15,1%, ou 437,8% ao ano.
No quadro abaixo você pode ter uma idéia do tamanho das taxas desse mercado paralelo. Para valores entre R$ 1.000 e R$ 3.000 a maior parte dos agiotas cobra entre 16% e 22%.
Os agiotas nunca informam corretamente —quando informam— o juro real que o tomador está pagando. Em geral, dizem que a taxa fica entre 12% e 14% ao mês.
Como base de comparação, o crédito pessoal obtido em bancos custa de 7,20% a 15,2% ao mês, ou 130,3% e 446,3% ao ano, respectivamente. O cheque especial cobra entre 13,8% e 16,8% ao mês, ou 371,7% e 544,6% ao ano, respectivamente.
Para obter um empréstimo com esses agiotas o interessado não precisa fazer muito esforço. Primeiro, porque os classificados dos jornais trazem inúmeros anúncios todos os dias. Segundo, porque os escritórios resolvem toda a parte burocrática.
Um simples telefonema e o interessado recebe as informações que desejar. Como garantia pelo empréstimo os agiotas exigem, basicamente, que o tomador tenha telefone ou carro —nesta ordem.
Nestes casos, o tomador transfere a propriedade daqueles bens a quem faz o empréstimo. Quando a dívida for totalmente paga os bens retornam.
São exigidos CIC e RG (cópias autenticadas), as duas ou três últimas contas do telefone e documentos do carro.
A liberação do dinheiro é imediata —às vezes, em meia hora. Quem faz o empréstimo já leva os boletos para pagar em banco. O primeiro pagamento é feito 30 dias após o empréstimo.
Quando a garantia é telefone o valor máximo emprestado fica em torno de 70% —para uma linha avaliada em R$ 4.000 o máximo é de R$ 2.800. Para carros o empréstimo é de 50%. A avaliação é feita com base em tabelas de jornais.
Perguntado sobre a razão da preferência por telefone, um dos agiotas disse que se trata de "um avalista que não discute com o dono".
Há agiotas que trabalham apenas com cheque-salário —quando a empresa deposita o salário em conta bancária—, limitado a 30% do salário.
O trabalhador dá ao agiota cheques pré-datados para o dia em que recebe (em geral o pagamento é feito entre duas e seis parcelas). No dia do pagamento o cheque é descontado.

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