São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Embrapa revisa planilha

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Desde 1987 a planilha de custo de produção de leite, elaborada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vem se constituindo em importante referencial para a determinação do preço do leite no Brasil.
Evidentemente, que custo e preço são conceitos diferentes.
Por isso, a planilha deve ser entendida como um balizador de negociações de preço.
O resultado de qualquer planilha de custo depende da metodologia de cálculo e dos coeficientes técnicos.
No caso da planilha da Embrapa, a metodologia utilizada considera o custo total, incluindo a remuneração do capital imobilizado na atividade leiteira.
Tal metodologia, quando comparada com a do custo operacional, obtém resultado, naturalmente, maior.
Quanto aos coeficientes técnicos, o critério adotado foi o de se basear em sistemas de produção reais e de comprovadas eficiências técnica e econômica.
Em outras palavras, a planilha não retarda o custo de produção de uma fazenda média, mas sim de uma fazenda considerada eficiente.
Uma vez que a planilha se baseia numa recomendação tecnológica, é natural que, periodicamente, aconteça revisão, decorrente da própria evolução da recomendação tecnológica.
A primeira planilha de custo de produção de leite, elaborada pela Embrapa, teve como referência o sistema de produção do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite (CNPGL).
Localizado na cidade mineira de Coronel Pacheco, o CNPLG é um dos mais importantes centros de estudo de gado leiteiro do país.
Em 1987, esse sistema com 100 hectares (80% em relevo muito acidentado) possuía 40 vacas em lactação.
Em 1990, na mesma área, o sistema possuía 55 vacas em lactação.
Nesta época realizou-se a primeira revisão da planilha.
Atualmente, na mesma área, o sistema possui 65 vacas em lactação e realiza-se a segunda revisão da planilha de leite C.
O avanço tecnológico, que viabilizou maior escala de produção, trouxe, como consequência, redução do custo por litro.
Estimativas preliminares indicam redução em torno de 20% do custo, na revisão ora realizada.
A credibilidade que a planilha da Embrapa conquistou, reconhecida que é pela maioria dos pecuaristas nacionais, ao longo desses anos, tem muito a ver com a transparência que as operações são realizadas.
Os coeficientes técnicos são extraídos de sistemas de produção reais, que podem ser conferidos por quaisquer interessados.
Além disso, antes de divulgá-la, os critérios de cálculo são discutidos com pesquisadores, extensionistas, produtores e representantes da indústria.
Por tudo isso, a Embrapa não foge da proposta inicial, qual seja de a planilha servir como referência tecnológica.
Aliás, as revisões da planilha são realizadas com orgulho, porque demonstram resultados alcançados pela pesquisa.
Em razão de se basear num sistema de produção eficiente, é natural que o custo apurado seja menor que o de muitos produtores, adotando-se a mesma metodologia de cálculo.
Por isso, o resultado da planilha deve ser entendido como uma referência de preço-base nas negociações entre produtor e comprador de leite.
Se a planilha foi importante para o produtor durante o período de tabelamento do preço do leite, que terminou no final de 91 agora o é muito mais, em razão das imperfeições do mercado.
Hoje, a planilha é um dos poucos instrumentos de defesa do produtor, que opera num mercado de concorrência quase perfeita e enfrenta a força dos oligopólios a jusante e a montante da produção.
Se todo o mercado fosse de concorrência perfeita, nenhum dos agentes econômicos poderia influenciar o preço, que resultaria das forças de oferta e de demanda.
Nesse caso, planilha de custo, como instrumento de negociação de preço, tem papel insignificante, porque o agente econômico é apenas um tomador de preço.
Entretanto, essa não é a realidade do mercado do leite.
Diante dos argumentos apresentados, reduzir a importância da planilha é fazer o jogo da indústria, visto que, quanto menor for o preço da matéria-prima, maior será seu lucro.
Ao mesmo tempo que ela representa um instrumento de defesa do produtor nas negociações do preço, ela cristaliza uma proposta tecnológica e, nesse sentido, contribui para a modernização da pecuária leiteira nacional.

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