São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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A safra da transição

NEY BITTENCOURT DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sem encontrar um modelo que lhe permita um crescimento consistente e sustentado, a agricultura vive um dramático período de transição.
Todo o setor está sendo obrigado a adaptar-se frente às mudanças no seu ambiente de negócios.
Esta reestruturação não toca isoladamente a agricultura, mas todo o agribusiness.
A questão é que o novo ciclo de desenvolvimento da agricultura não terá como pilar de sustentação o bloco monolítico das políticas agrícolas governamentais, já que os seus instrumentos tradicionais se esgotaram.
A realidade das contas públicas mostra que o Tesouro Nacional não possui mais condições para garantir preços mínimos e gerar capital de giro a custo e quantidade compatíveis com a atividade agrícola.
É preciso um sistema seletivo e de priorização dos escassos recursos disponíveis para crédito rural.
Em segundo lugar, diz respeito a capacidade do Estado para gerir os grandes estoques.
Problemas aparecem desde a aquisição até a desova, o que aconteceria também para qualquer empresa.
Por fim, temos o fato de que a política agrícola tradicional perde eficácia para operar nas economias em processo crescente de abertura.
Na formação do preço interno do milho hoje não podemos desconhecer as condições de oferta da Argentina, Paraguai e dos EUA.
Até pouco tempo atrás, isto não seria necessário. E tudo vai para esta direção, com a globalização dos mercados. O desafio é encontrar novas saídas para que a agricultura tenha crescimento sustentado.
As luzes começam a brilhar. Já temos a garantia do preço mínimo pela equivalência-produto e a comercialização pelo prêmio de liquidação.
Agora o governo autoriza captação de recursos externos para o crédito rural, reduz prazos nas operações de adiantamento de contratos de câmbio para comodities agrícolas e exige pagamento à vista nas importações.
É ainda insuficiente. Mas o importante é entender que muito dos problemas atuais da agricultura são tipicamente de agribusiness. Encontrar fórmulas para que a atividade se modernize, de um lado, com incorporação tecnológica e ganhos de produtividade, e, de outro, por mecanismos de defesa, com menor quantidade de subsídio possível, que lhe garanta renda.
As ações passam pelos tomadores de decisão do governo e também da iniciativa privada. Nossa confiança é de que para a próxima safra tenhamos aprimorados uma série de instrumentos, cuja falta comprometeu a renda do setor este ano.

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