São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Aluna perde 230 dias de aula em 10 anos

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que começou a estudar, em 1985, Janaína Morandi, 18, perdeu aproximadamente 230 dias de aula devido à greve de professores. Isso equivale a pouco mais de um ano letivo (200 dias) de paralisação.
Janaína, que hoje está no 3º ano do 2º grau, da EEPSG Caetano de Campos (região central), sempre estudou em escolas públicas.
"Já me acostumei com as greves e nem me lembro dos anos em que as aulas não foram interrompidas. Sei que minha formação ficou comprometida e tenho medo de que isso prejudique meu desempenho no vestibular."
Anderson Garcia, 15, aluno do 1º ano do 2º grau na EEPSG Marina Cintra, também diz que seu aprendizado ficou comprometido pela greve. Ele estuda em escolas estaduais desde 89, quando estava na 3ª série, e perdeu 159 dias de aula por causa das paralisações.
"A pior greve foi a de 93, quando estava na 7ª série. Fui para São José do Rio Preto e aproveitei como se fossem férias, mas na volta a matéria foi dada com pressa e só passei porque os professores não reprovaram ninguém."
Apesar de serem contra a paralisação, os alunos se solidarizam aos professores e dizem que o piso da categoria é "muito baixo" ou "uma vergonha".
"Eu odeio greve, mas se ganhasse R$ 141,00 faria o mesmo. Trabalho uma cinco horas por dia como balconista numa padaria e ganho R$ 250,00, quase o dobro do salário de alguns professores", diz Tatiana Lopes, 14, aluna do 1º ano do 2º grau, da Marina Cintra.
Dênnis Eduardo Maciel, 18, aluno do 2º ano do 2º grau ganha R$ 250,00 de mesada dos pais e R$ 260,00 como caixa na KFC (Kentucky Fried Chicken).
"Gasto todo meu dinheiro com revistas, aluguel de fita de vídeos, alimentação e transporte. Não acredito que tem professor ganhando 25% do que recebo. Aí só mesmo fazendo milagre ou greve."

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