São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Padre dorme na rua há um ano

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

O padre Arno Dalmônico, 45, dorme há um ano na calçada em frente à igreja Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro do Mangal, região oeste de Sorocaba (SP).
Dalmônico diz ter sido "despejado" por seus superiores da ordem religiosa Salesiana. Entre 1990 e março do ano passado, ele foi pároco na igreja.
O padre se instalou na calçada em março de 94, quando voltou de férias e, segundo ele, foi impedido de retomar suas atividades na paróquia e de ocupar seu quarto no colégio onde morava, mantido pela congregação.
Todas as noites, o padre monta sua barraca na calçada. Um estrado de madeira é encostado no muro e coberto com plástico.
Uma faixa e uma placa "decoram" a barraca. A faixa —com a inscrição "Os Excluídos. Eras Tu, Senhor?"— aborda a Campanha da Fraternidade deste ano. A placa lembra o início do protesto do padre: "Ainda Aqui. 18-03-94."
"Nesse período, só deixei de dormir aqui duas noites, quando fui visitar minha mãe em Santa Catarina", afirma Dalmônico.
Ele diz que o objetivo da manifestação é "voltar para o altar". "Se for preciso, posso permanecer na rua o resto da vida. Recebi uma missão de Deus para mostrar incoerências de certos padres."
As "incoerências" apontadas pelo padre são a "incompreensão e a falta de perdão e de afeto", das quais diz ser vítima.
Para Dalmônico, padre há 13 anos, seu "despejo" da igreja aconteceu por "ciumeira". "Construí um salão paroquial e lotava a igreja", afirma. Dalmônico fica na rua enquanto dorme, entre 23h e 7h. Durante o dia, ocupa-se de atividades religiosas.
No início da noite, viaja para Itu, onde cursa o primeiro ano de direito em uma faculdade.
"Continuo exercendo minhas funções de padre", diz Dalmônico. "Faço batizados e casamentos. Só parei de celebrar missas." Segundo ele, suas despesas são pagas pelos paroquianos. "Nunca me deixaram faltar alimento, roupa e afeto."
Dalmônico diz que entrou na Justiça pedindo a reintegração à ordem religiosa e que move processos por calúnia e difamação contra a direção dos salesianos em Sorocaba.

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