São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Nem as liquidações atraem consumidor

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem mesmo as liquidações levaram o consumidor a gastar mais neste mês. Do dia 1º até 26, as vendas a prazo caíram 1,1% e à vista, 0,22%, sobre igual período de fevereiro.
O levantamento —feito pela Associação Comercial de São Paulo— toma como base números de consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e ao Telecheque.
Tradicionalmente, em março, as vendas a prazo e à vista são 2% a 5% maiores do que as de fevereiro, informa Marcel Solimeo, economista da associação.
"Juros altos e inadimplência afugentaram o consumidor." Nos seus cálculos, o número de carnês não-pagos deve somar 150 mil neste mês, um recorde.
Desde o real, conta ele, o maior número de registros de prestações não-pagas foi verificado em dezembro —de 144 mil—, segundo dados da associação.
Para Oiram Corrêa, chefe do departamento de economia da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, os efeitos do processo de desaceleração no consumo serão mais sentidos em abril.

Estoques
Alguns lojistas paulistanos chegam a ter em estoque até 30% dos artigos da coleção de verão.
Por causa disso, vão esticar a liquidação até o final de abril. Isso acontece especialmente com o comércio nos Jardins.
"Alguns lojistas chegaram a vender neste mês 10% menos do que em março do ano passado", informa Nina Bastos, diretora da Associação de Lojas e Restaurantes da Rua Oscar Freire.
Nos shoppings, a média diária de vendas neste mês foi de 15% a 20% menor do que a de fevereiro. Alguns lojistas também vão esticar as promoções.
"O dinheiro está indo para a poupança", diz Raul Sulzbacher, diretor do departamento de shoppings da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Segundo ele, a expectativa dos lojistas dos shoppings era a de faturar neste mês 45% mais do que em março do ano passado. "Mas se chegar a 20% mais já será fantástico."
Murad Salomão Saad, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo, que reúne 25 mil pontos-de-venda, informa que o setor fecha este mês com queda de 5% nas vendas, em média, sobre fevereiro.
"O comércio esperava faturar bem mais com as liquidações." Ele conta que a frustração na desova dos estoques levou alguns lojistas a cortar parte dos pedidos da coleção outono-inverno já feitos às confecções.
A sua própria loja —o Bazar Violeta— cortou em 20% uma encomenda feita em fevereiro para a Hering.
"Pedimos 20 mil peças para entrega em abril. Agora só queremos 16 mil. Tenho medo de ficar com muito estoque."
No crediário, os juros se mantêm altos. Ontem, o Mappin aumentou de 9,8% para 12% a taxa mensal cobrada do consumidor. "O mercado nos obrigou a fazer isso", diz Sérgio Orciuolo, diretor da empresa.

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