São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Abobrinhas; São Paulo-Gotham City

Abobrinhas
"Injustas e infundadas são as críticas do editorial 'Abobrinhas', publicado na página 1-2 da Folha de 25/03, pois se baseiam na falsa premissa de declarações que não dei. Ao contrário do que reproduz o editorial, eu não disse que 'o capital financeiro já está fluindo para o Brasil', até porque minha conversa com o repórter da Folha não tratou de mercado de capitais, mas se limitou a questões referentes ao financiamento agrícola. Eu disse, sim —e repito para dirimir eventuais dúvidas do leitor deste jornal—, que as medidas adotadas recentemente pelo governo restabelecem a credibilidade do Brasil no exterior e gerarão superávits na Balança Comercial. Mas ninguém, em sã consciência, pode esperar que elas produzam o efeito positivo desejado do dia para a noite. Muito menos retroativamente. Seria impossível produzir superávit no mês de fevereiro, cujo déficit comercial foi lembrado pelo redator do editorial. Quanto aos fluxos financeiros, não entendo a referência a eles. Em primeiro lugar, por não ter sido assunto de minha conversa com o repórter da Folha. E, em segundo lugar, porque a volta desse capital especulativo não faz parte de meus desejos nem dos planos do governo. Quanto ao fato de ignorar as consequências graves da crise do México para o Brasil na obtenção de capitais externos, gostaria de esclarecer ao redator do editorial que o assunto foi citado por mim ao repórter como um obstáculo importante para obtenção de créditos pelo Brasil no exterior. No entanto, a redução do prazo de três anos para seis meses nos empréstimos obtidos pela agricultura brasileira no exterior, mesmo com a crise do México, certamente vai estimular a vinda de tais créditos. Parece-me muito mais atrativo investir numa safra com possibilidade de ter o dinheiro de volta em seis meses do que em três anos. Feitos tais esclarecimentos, continuo à disposição da Folha para todas as informações que estiverem a meu alcance a respeito dos financiamentos à agricultura."
José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária (Brasília, DF)

Nota da Redação — Ao contrário do que diz, o ministro Andrade Vieira tratou de mercado de capitais em entrevista que foi gravada pela Folha. Quando o jornal lhe perguntou se o capital estrangeiro já estava fluindo para o Brasil, respondeu: "Já". Quando questionado sobre o receio dos bancos estrangeiros de investir no Brasil, afirmou que o país já adotara medidas para voltar a ter superávit comercial e emendou: "Este problema já está superado".

São Paulo-Gotham City
"Em sua coluna publicada quinta-feira última, Otavio Frias Filho externa preocupação quanto à possibilidade de os Cepacs —criados a partir de projeto de lei de minha autoria— desvirtuarem o zoneamento da cidade. O Cepac não tem o condão de alterar, por si só, uma vírgula sequer da atual legislação de zoneamento. Ele só será utilizado posteriormente a alterações urbanísticas aprovadas segundo a atual legislação. Trata-se apenas um instrumento de financiamento público, e não de política urbanística. Um exemplo esclarecerá melhor. Hoje, as mudanças de zoneamento aprovadas pela Câmara beneficiam gratuitamente os proprietários de terrenos que tenham seu potencial de construção aumentados. Nada lhes é exigido em troca. Gastos públicos gerando lucros privados. Com os Cepacs, os direitos adicionais de construção, para serem exercidos, exigirão a apresentação dos certificados previamente adquiridos. Ou seja, os proprietários imobiliários dividirão com a coletividade os lucros e benefícios que a alteração de zoneamento lhes concedeu. O Cepac é um instrumento moderno e inovador em todo o mundo e mereceu elogios quando apresentei o tema em simpósio internacional de urbanismo realizado em Toronto, em 1993. É instrumento de justiça e de desconcentração de renda, e não de corrosão do zoneamento, como teme Otavio Frias Filho."
Marcos Cintra, economista e vereador pelo PL (São Paulo, SP)

"Gosto do que Otavio Frias Filho escreve e como escreve, e é por isso que escrevo esta. De pleno acordo que São Paulo está vivendo um tenebroso drama de tráfego. De um lado porque, lamentavelmente, nossa cidade nunca foi pensada, ao contrário de outras metrópoles como Paris, por exemplo, que, quando não havia ainda automóveis teve um gênio —Haussman— que idealizou, e concretizou, suas notáveis avenidas; de outro porque centenas de veículos somam-se aos existentes todos os dias. E, enfim, também, como disse, porque dezenas de obras atravancam as nossas já poucas e estreitas vias públicas. As obras breve terão um fim e, de alguma forma, ajudarão a minorar, em parte, os atuais problemas. A verdade, contudo (e é o que faltou no brilhante artigo de Otavio Frias Filho) está no fato de que a única solução para São Paulo, consoante já o disse em artigo publicado nesse jornal, estará no Metropolitano. Quando esse nosso sistema rápido de transporte, a exemplo do que sucede em Nova York, Londres, Moscou, Cidade do México, Paris, tiver cerca de 400 quilômetros, em linhas que cortem a nossa cidade, até os mais longínquos subúrbios, em todas as direções. Temos apenas 20 km, que atendem 2 milhões de passageiros/dia. Com 400 quilômetros toda a nossa população seria atendida. Dispensando-se a utilização dos veículos particulares. E os ônibus, hoje mais de 6.000, seriam, quando muito, 100 ou 200, atuando em linhas circulares. A Folha e toda a nossa imprensa deveriam insistir com o governo do Estado e mesmo a prefeitura, pois o problema é, acima de tudo, municipal, para essa prioridade absoluta. E se Estado e prefeitura não têm recursos, busquem-no na iniciativa privada através de contratos de 50, 100 anos! Ou, pelo menos, ficando o Estado com a responsabilidade dos trens, da linha, dos serviços, entregando à iniciativa privada as estações, autorizando-se que acima das mesmas construam-se o que bem entenderem: shoppings, apartamentos etc. Se, ainda assim, o problema é de difícil solução, crie-se um tributo de, digamos, cinco centavos em cada litro de combustível para um fundo especial destinado à construção do Metropolitano em todas as capitais. Cobrando apenas nas capitais. Os que têm carros pagariam para que, breve, não mais precisassem usar seus carros para trabalhar. Ajudando os que não têm carro e se obrigam a usar ônibus. O dia que São Paulo tiver seus 400 km de metropolitano, teremos ótimo transporte, respiraremos melhor e todos seremos mais felizes."
Paulo Planet Buarque, conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (São Paulo, SP)

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