São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Leilão traz arte atual pela metade do valor

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Leilão: RMG escritório de arte (av. Europa, 68, tel. 011/881-2166, Jardins, zona sul)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Preços: de US$ 400 a US$ 12.500 (lance mínimo)

Se o teste de fogo de um mercado de arte são os leilões, o mercado brasileiro pode esquentar hoje e amanhã à noite. Ao menos essa é a opinião de Renato Magalhães Gouvêa, que organiza o leilão.
O marchand vende nessas duas etapas um lote de 150 obras de 120 artistas brasileiros contemporâneos. O valor dos lances mínimos foi estabelecido em 50% do valor de mercado das obras.
"O mercado precisa sentir o interesse das obras", diz Gouvêa. "Há aqui uma carência de leilões bons e frequentes, assim como de mais galerias de alta qualidade." Em virtude dessas carências, segundo ele, o leilão "pode ampliar o mercado, que é muito elitista".
Gouvêa teve a idéia de fazer um leilão exclusivamente de arte contemporânea ao verificar que nos leilões que habitualmente faz, de obras modernistas e peças decorativas, "Ismael Nery, Di Cavalcanti, Pancetti afastam o interesse pelos artistas vivos".
Gouvêa acha que a vantagem de um leilão sobre a venda em galeria já está na noite do evento. "Nos vernissages das galerias, as pessoas mal vêem as obras e raramente compram. Na noite do leilão, 500 pessoas estão aqui especialmente para comprar arte. Meus últimos leilões estavam lotados."
O leilão tem muitas obras de artistas desconhecidos ou desimportantes. Mas há algumas de renomados como Arcangelo e Thomaz Ianelli, Mário Gruber, Amelia Toledo, Baravelli, Lizárraga, Renina Katz e Antonio Henrique Amaral.
As obras às vendas são telas e esculturas pertencentes a colecionadores ou aos próprios artistas. Não há obras de artistas mortos. Gouvêa diz que o leilão "não pode se dar ao luxo de fazer nomes" e "deve recolher no mercado os artistas contemporâneos de quem o público já tenha ouvido falar".
Alguns, como Marcantonio Vilaça, protestaram contra um leilão que vende obras a 50%. "Respeito o trabalho dele, mas não acho que é assim que se trabalha a arte atual", disse.
Raquel Arnaud, quando se trata de arte dos anos 90, pensa do mesmo modo. "A linguagem dos artistas com quem trabalho não casa muito com leilões. E eu prefiro uma venda mais individualizada."
Gouvêa, por sua vez, acha que a venda raramente vai ser pelo lance mínimo. "Minha experiência é a de que ela frequentemente ultrapassa o valor de mercado."
Outros galeristas, como Mônica Filgueiras, declararam que gostariam de ver obras de suas galerias em leilões futuros.

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