São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Coppola esquece lado radical

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Peggy Sue, Seu Passado a Espera" (Globo, 16h) parece um momento de distensão numa carreira cheia de desafios, como é a de Francis Coppola.
Mas é também um filme um pouco deslocado. Parece dedicado a uma atriz, Kathleen Turner, que é ótima, mas teria feito o papel de adolescente com mais desenvoltura uns vinte anos antes.
Parece, também, um vôo nostálgico ao passado, não sem parentesco com o George Lucas de "American Graffiti". A história diz respeito ao encontro, em 1985, de um grupo de estudantes dos anos 60. Eleita rainha da festa, Peggy Sue (Kathleen Turner) tem um desmaio e retorna à adolescência. Desmaio nada inocente, em se tratando de uma mulher que está se separando do marido. Momento, portanto, de rever uma vida e, através dele, um momento crucial das mudanças de costumes, os anos 60.
É uma pena que essa passagem seja um pouco forçada e que Turner, em definitivo, não tenha mais cara de adolescente. Isso condena o filme a um arbitrário meio radical. Precisamos antes acreditar em uma convenção para depois acreditarmos no filme.
Sabe-se que Coppola, desde sempre, mantém relações tensas com o realismo: ora o escolhe, ora o repele. "Peggy Sue" parece entrar na história como um estágio intermediário, em que a verdade não deve chegar nem pela fantasia, nem pela vinculação ao real. É um filme distendido, no sentido em que essa palavra traz também a idéia de afrouxamento do rigor. Coppola sem radicalismo é menos Coppola.
(IA)

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