São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Presos aceitam libertar reféns às 8h

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI; ISNAR TELES
DO ENVIADO ESPECIAL A TREMEMBÉ E DA FOLHA VALE

Está marcada para as 8h de hoje a rendição de 704 amotinados no presídio de Tremembé (135 km a nordeste de São Paulo).
Ontem, às 17h38, depois de duas rodadas de negociações com o secretário de Justiça e da Administração Penitenciária, Belisário dos Santos Júnior, os rebelados libertaram dois dos 37 reféns.
Foram libertados os agentes penitenciários Antonio de Morais Silva e Walter Nunes Santos Júnior (leia texto à pág. 8).
Permanecem com os rebelados 25 parentes de detentos -cinco crianças, uma de oito meses— e 10 funcionários do presídio.
Para a polícia, os reféns são apenas os 10 funcionários, já que os familiares teriam permanecido no presídio por vontade própria.
Belisário dos Santos Júnior disse não ter dúvidas de que a rebelião termina hoje.
"Acho que eles cumpriram sua parte no trato. Tudo deve acabar amanhã (hoje) cedo. Eles respeitaram a vida de dois reféns", disse.
Santos Júnior negou a informação passada por sua assessoria de que os presos teriam matado um refém.
Também não foi confirmada a morte de um preso —Joaquim Marcelino dos Santos, 31, conhecido "Queixada"—, que teria sido morto pelos amotinados.
O secretário da Justiça já havia decidido que a PM iria invadir o complexo às 17h de ontem.
Na última rodada de negociações, às 16h30, Santos Júnior, irritado, chegou a dar as costas para os detentos João Pereira da Silva, José Moreira da Silva e Edmilson dos Santos.
Durante as negociações, os rebelados ficaram cercados por doze homens armados com fuzis e metralhadoras. O secretário disse aos presos que eles não estavam cumprindo com o que prometeram.
"Já dei todas as garantias que vou atender às suas reivindicações", afirmou Santos Júnior.
O amotinado Edmilson dos Santos argumentou: "Se nós formos transferidos durante a noite, vamos ser espancados. Só nos renderemos amanhã, à luz do dia, com a presença de pelo menos 50 jornalistas".
Às 16h45, Santos Júnior telefonou ao governador Mario Covas e comunicou-o de sua decisão de não invadir o presídio.
"Prefiro aguentar pressões da imprensa e evitar um novo massacre. A situação está sob controle", disse o secretário.
Movimentação da PM
A Polícia Militar usou durante a rebelião cerca de 300 policiais dos batalhões de Taubaté e do 3º Pelotão de Choque de São Paulo.
Nos dois primeiros dias da rebelião, cerca de 70 policiais do batalhão de Taubaté ocuparam todas as passarelas das muralhas do presídio. Na terça-feira, houve a primeira ação do Gate (Grupo Armado Tático Especial).
Dois helicópteros da Polícia Militar sobrevoaram o presídio com seis atiradores de elite do Gate.
Ainda na terça-feira, os atiradores ocuparam pontos estratégicos do presídio. Ontem pela manhã, aproximadamente 200 policiais do 3º Pelotão de Choque da Polícia Militar de São Paulo invadiram o presídio.
Eles estavam armados com bombas de efeito moral (gás lacrimogênio) e armamentos pesados.
No final das negociações, todos os policiais do pelotão de choque deixaram o presídio.
(Claudio Julio Tognolli e Isnar Teles)

LEIA MAIS sobre a rebelião às págs. 7 e 8

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