São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Augusto de Campos lança CD de poemas

DA REPORTAGEM LOCAL

Augusto de Campos lança CD de poemas
Disco: Poesia E Risco
Poesia: Augusto de Campos
Música: Cid Campos
Lançamento: Polygram
Preço: R$ 20 (versão k7, R$ 10)

O trio dos poetas concretos paulistas chega ao CD. Décio Pignatari e Haroldo de Campos já haviam lançado um cada. Agora é a vez de Augusto de Campos, 63.
A Polygram acaba de enviar às lojas de discos e livrarias o CD que reúne poesias e traduções suas. São 28 textos, lidos por ele e musicados por seu fillho, Cid.
Há dois anos o lançamento é anunciado. Foi o cantor e compositor Caetano Veloso, depois de ter ouvido e elogiado o CD, quem deu o apoio decisivo para que a Polygram o lançasse.
Segundo Augusto, só depois que Cid montou um estúdio é que foi possível tornar realidade o projeto. O CD foi todo produzido por eles e entregue pronto a Polygram.
Augusto se encarregou inclusive da parte gráfica do disco, que traz um encarte sanfonado contendo os textos e, no miolo do CD, a impressão de um deles, o "Poema Bomba". Augusto criou tudo em seu Macintosh caseiro.
Outro fato que influenciou a realização do projeto foi a criação, no ano passado, de uma coleção de audiolivros pela gravadora. A Polygram já lançou fitas com poemas de Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira lidos por eles.
O CD de Augusto também tem uma versão em cassete, dentro dessa coleção.
Augusto acha que são poucas as iniciativas de leitura poética no país e espera que o lançamento de CDs como o seu possam ser estímulo contra isso. "A tradição de leitura é muito fraca no Brasil", diz, "ao contrário do que ocorre entre os poetas de língua inglesa."
Uma exceção à regra, que Augusto cita, foi o selo Festa, nos anos 50, que lançou discos com os poetas brasileiros lendo seus textos. "Depois, fora algumas tentativas isoladas, a coisa sumiu."
Ele lembra que a poesia concreta, embora seja mais associada à sua apresentação visual, sempre tentou estabelecer essa tradição. "Como se lê nos textos que lançaram o movimento, a poesia concreta se pretendia 'verbivocovisual'; tinha uma preocupação sonora muito forte."
Recorda, por exemplo, uma apresentação das poesias de seu "Poetamenos", sob direção do maestro Diogo Pacheco, em 1965.
Embora apresentações públicas como essa tenham escasseado, salvo algumas recentes de Décio e Haroldo, diz que ainda existe muito interesse por elas, sobretudo no exterior. Em 1994, esteve em Miami, no Center for Fine Arts, onde fez leituras, com Cid, num festival de música contemporânea.
E no próximo dia 5 volta aos EUA para um encontro de poesia experimental em Yale, onde também fará leituras. No retorno, em São Paulo, provavelmente em maio, organizará uma apresentação de lançamento do disco.
Sobre a parte musical do CD, Augusto comenta que está a meio caminho entre a música erudita e a popular. "Eu sempre transitei entre as duas: sempre escrevi sobre MPB, como no livro 'O Balanço da Bossa', e sobre a música de Webern, Cage e outros."
Seu filho, Cid, ex-membro de um grupo de música instrumental, se encarregou de promover a transição entre os repertórios. Usou samplers, sintetizadores e sequenciadores para modular fonemas de por Augusto. "Foi uma experiência que espero que se repita muitas vezes", diz o poeta, que anseia pela ocasião de fazer um CD-ROM.

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