São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Cascudo era um 'provinciano incurável'

EDSON FRANCO
DO ENVIADO ESPECIAL A NATAL

Folclorista, etnógrafo, historiador, romancista, musicista e pesquisador. Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) era digno de todas essas ocupações que tanto confundiram quem procurava adjetivá-lo.
Em duas coisas, porém, todos concordam: Cascudo foi a maior personalidade cultural de Natal e quem melhor identificou, catalogou e difundiu o folclore e a cultura popular nacionais.
Com a publicação em 1954 dos dois volumes do "Dicionário Brasileiro do Folclore", seu nome passou a ser sinônimo da obra.
O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) disse: "em vez de falar 'dicionário do folclore' poupa-se tempo falando simplesmente 'o Cascudo'."
Apesar de ter estudado medicina na Bahia, direito no Recife e visitado países da Europa, África e Américas, Cascudo jamais desejou deixar sua terra, Natal.
Em um artigo publicado no jornal natalense "A Crítica", em 1972, Cascudo escreveu que dois homens tentaram tirá-lo de lá. "Getúlio Vargas queria que fosse para o Rio de Janeiro e Agamenon Rodrigues, para Recife."
O escritor Afrânio Peixoto proferiu aquele que seria, nas palavras do próprio Cascudo, seu título definitivo: provinciano incurável.
E o que havia em Natal para atrair tanto o folclorista? Segundo o próprio, eram os "humildes, sábios analfabetos e sabedores dos segredos do mar."
Cascudo dedicou a esses personagens sua "Antologia do Folclore Brasileiro".
"Aos cantadores e violeiros, analfabetos e geniais; às velhas contadeiras de estórias, fontes perpétuas de literatura oral do Brasil, ofereço, dedico e consagro este livro que jamais hão de ler."
Durante seus quase 70 anos de produção literária Cascudo escreveu mais de 160 títulos. Quando morreu deixou inacabadas sua memórias que já tinham até título: "Antes da Noite".
Avesso a homenagens, o folclorista nunca concorreu à uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Livros para isso não faltavam.
Além dos já citados, "História da Alimentação no Brasil" e os romances "Histórias Que O Tempo Leva" e "Cantos de Muro" são bons exemplos.
Sobre o ofício que escolheu, Cascudo costumava brincar. "Nasci junto com Lampião e Luís Carlos Prestes. A diferença é que eu escolhi uma profissão lícita." (Edson Franco)

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