São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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FHC diz que não foge da raia e que está vacinado

A ruralistas, presidente afirma mexer em 'vespeiro'

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso, 63, voltou a atacar ontem as manifestações contra a reforma constitucional e a defender as medidas de correção do Plano Real.
FHC disse que foi eleito para mexer em "vespeiros" e não hesitará em baixar medidas "antipáticas", durante audiência com produtores rurais e parlamentares no Palácio do Planalto.
Antes, através de seu porta-voz, o presidente já havia criticado diretamente o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, de trocar a discussão sobre as reformas constitucionais pela organização de protestos.
O porta-voz da Presidência, embaixador Sérgio Amaral, disse que FHC "lamenta que o presidente da CUT, convidado por ele a discutir as reformas, tenha preferido organizar manifestações de rua".
Vicentinho participou, na semana passada, da manifestação contra as reformas constitucionais em Brasília, financiada pelo governo petista do Distrito Federal.
Ao defender as propostas de quebra dos monopólios e da reforma da Previdência, durante a audiência com produtores rurais, FHC disse: "Mexi em alguns vespeiros e vou mexer em outros. Não vou fugir da raia em nenhuma matéria."
Fernando Henrique afirmou estar "vacinado". Segundo ele, "quando a abelha pica muito, ela vacina. E quando a gente fica vacinado, não tem mais medo do vespeiro e o enfrenta com tranquilidade".
Pela segunda vez, em dois dias, FHC classificou as críticas às reformas constitucionais de "gritaria". Ele disse aceitar o convencimento, mas não a gritaria.
O presidente afirmou que não hesitará em baixar medidas "antipáticas" para assegurar a estabilidade econômica. "As medidas podem ser duras, impopulares e ferir interesses, mas eu tenho obrigação de olhar o horizonte".
FHC se referiu ao cenário de crise mundial, ao discursar a parlamentares e produtores rurais. "Em toda parte, os governos estão tomando as medidas pertinentes para que se possa assegurar a estabilização econômica e prosperidade. Às vezes, as medidas são antipáticas".
O presidente comparou os planos Real e Cruzado (86). "Se me permitem uma pequena reflexão de quem já viveu um processo parecido: uma estabilização que ia dar certo e não deu"... Em seguida, emendou: "A nossa dá (certo)".
Fernando Henrique prometeu aos produtores rurais o fim da TR (Taxa Referencial) como indexador do crédito agrícola, mas disse que essa medida não será imediata.
"Vamos promover a desindexação, mas ela não é momentânea, porque precisa de ajustes. Estamos começando a fazer. No horizonte, a TR cederá a outros mecanismos mais adequados e mais compatíveis", disse.
Os produtores pediram o fim da TR, o cumprimento da lei de garantia de preços mínimos e a proibição de importações que prejudiquem a produção nacional. O governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto, pediu a ampliação dos recursos para a comercialização da safra de milho.

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