São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Choque com Motta foi decisivo na queda

GABRIELA WOLTHERS; GILBERTO DIMENSTEIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em três meses de gestão, Roberto Muylaert não conseguiu encontrar seu espaço no governo Fernando Henrique Cardoso. Pior do que isso, trombou com duas das pessoas mais ligadas ao presidente: o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, e a assessora de imprensa do Palácio do Planalto, Ana Tavares.
Já no primeiro mês à frente da secretaria, Muylaert confidenciava a assessores que, ao aceitar o convite, havia cometido um dos "maiores erros de sua vida".
Prestigiado pela reconhecida qualidade da TV Cultura em São Paulo, a qual dirigiu, ele imaginava que comandaria uma histórica renovação: implantaria o sistema de educação à distância.
Constatou rapidamente que faltavam condições para implementar seu projeto: não dispunha de verbas nem profissionais qualificados, contrastando com sua experiência na TV Cultura,
A decisão de ir embora começou a amadurecer com as cobranças que vinham do Palácio do Planalto. FHC entrou num processo de desgaste, detectado por pesquisas de opinião ainda em janeiro.
Imaginava-se, ali, que Muylaert deveria administrar a imagem do governo, com um plano de comunicação envolvendo o presidente.
Em março, as cobranças começaram a se tornar públicas. Na última terça-feira, o ministro Sérgio Motta deixou claro que era radicalmente contra as idéias defendidas por Muylaert com relação à campanha publicitária em defesa das reformas constitucionais.
O secretário afirmava que o governo iria veicular anúncios nos meios de comunicação e que as campanhas seriam patrocinadas com verbas do Ministério da Previdência e do Banco do Brasil.
"Sou contra campanhas publicitárias", disse Motta. Logo em seguida, completou: "Se elas forem feitas, serão pagas com verbas da Presidência da República".
No meio político de Brasília já há a certeza de que as falas de Motta são, na verdade, recados do próprio presidente.
Já os desentendimentos com Ana Tavares começaram antes mesmo da posse do presidente. Assessora de FHC há mais de uma década, Ana assustou-se com a desenvoltura com que Muylaert tentava ocupar espaço junto a FHC.
Uma semana antes da posse, o então futuro secretário foi ao Planalto escolher sua sala. Também perguntava aos assessores de FHC se teria direito a carro oficial e se a sua função teria status de ministro.
Foi longe demais. Não só não se tornou ministro como seu gabinete foi transferido para o antigo Ministério do Bem-Estar Social —a um quilômetro de FHC.

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