São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Constrangimento

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O palco não é para todos. Pedro Malan não é Rubens Ricupero e muito menos Fernando Henrique, e foi protagonista de longos minutos de constrangimento, ontem na televisão.
Estava sério demais, no pronunciamento. Estava tenso, sem subtexto, ao contrário dos predecessores, na televisão. O resultado foi desperdício da mensagem, que não chegou. Foi desperdício de tempo.
O ministro não parecia ter consciência do que falava. Em pelo menos uma passagem, atravessou, misturando o final de um período com o início de outro. Foi logo de cara e perturbou de vez o entendimento.
Muito nervoso, sabedor da própria deficiência oratória, tanto que abriu dizendo, "é a primeira vez", Pedro Malan esteve perto de perder o fôlego em boa parte do discurso.
Ao arriscar um arroubo, por exemplo, acentuando algo que seria "ir-re-ver-sí-vel", soou artificial, sem espontaneidade. Também nada espontâneo foi o esforço populista de mencionar "dona Maria Ferreira", contra a "gastança" no país.
Pedro Malan, pelo que se viu em quase um ano na televisão, está mais para a ironia, sente-se em casa com um certo sarcasmo civilizado. Foi com ironia que alcançou o seu melhor momento, ontem, ao falar das "suaves prestações mensais", reforçando nas aspas.
Muito pouco para reverter a marca do constrangimento e transmitir segurança, alguma segurança. O ministro foi à televisão para um teste de interpretação —e não passou.

Troca o técnico
Os atores são um desastre e o culpado é o diretor.
Os jogadores vão mal e quem cai é o técnico.
Ontem expiaram três meses de governo Fernando Henrique sobre Roberto Muylaert, que foi secretário de comunicação de um ministério de tímidos —ou então de truculentos.
Malan não passou no teste e o reprovado foi Muylaert.

Irritação
Fernando Gabeira cortou o horário obrigatório do Partido Verde de uma hora para cinco minutos e argumentou:
— Se obrigamos as pessoas, elas acabam se irritando e isso abre uma brecha maior entre a população e os políticos.
Alívio "entre a população". Mas falta seguirem o exemplo.

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