São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Familiares fazem até churrasco para comemorar

DA FOLHA VALE

Cerca de 50 parentes dos presos rebelados aguardavam ontem de manhã na frente do Presídio 1, em Tremembé, pela liberação dos reféns e pelo final do movimento.
A hora mais dramática foi por volta das 8h15, quando a tropa de choque da Polícia Militar voltou a invadir o presídio.
Os familiares correram para a frente da caixa-d'água, onde ficavam os presos rebelados, na esperança de conseguir notícias sobre o que estava ocorrendo.
As mulheres se abraçavam e choravam com medo de que o acordo com o governo do Estado pudesse dar errado.
Um grupo de seis pessoas passou a rezar pelo final da rebelião, enquanto os presos enviavam bilhetes avisando que estavam bem.
Segundo os parentes, a tranquilidade só voltou quando os presos ergueram uma faixa com a palavra "fim".
Churrasco
Os parentes que aguardavam desde domingo pelo final da rebelião no Presídio 1 comemoraram o acordo entre presos e a polícia com emoção, reza e até churrasco.
Os familiares aguardavam também a saída dos parentes que se dispuseram a ficar dentro do presídio durante a rebelião.
"Não acredito que o pesadelo acabou. Estava desesperada com a idéia de que muita gente inocente poderia morrer. Nem todos os presos concordavam com a rebelião", disse A.I.G., que não quis se identificar.
A.I.G. festejou o final da rebelião rezando na frente do presídio. Ela agradeceu orando com a imagem da Nossa Senhora.
Otto Nelson Alves Ribeiro, que na segunda-feira tinha tentado trocar de lugar com sua neta Gleyce Graziele no grupo de parentes que permaneciam no presídio, disse que ia fazer um churrasco em sua casa.
Para ele, além do fato de seu filho, o preso Marcos Roberto estar bem, havia mais dois motivos para comemorar porque estavam livres a neta e sua filha Roberta Kelly. Roberta também tinha permanecido com os presos.
Ribeiro abraçou emocionado sua neta e disse que a única pena era que ele não poderia levá-la para casa no colo. Gleyce seguiu no ônibus junto com os outros parentes que ficaram dentro do presídio.
Edileuza de Lira Silva, 43, mãe do preso José Alcides, era uma das mulheres mais nervosas na hora da espera.
José Alcides foi condenado a 12 anos de prisão por homicídio, dos quais cumpriu 3 anos e um mês.
"Só a fé em Deus para me fazer aguentar tanto sofrimento. Vim para cá apenas com a roupa do corpo."'

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