São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Imposto maior provoca corrida aos importados

FÁTIMA FERNANDES; GRAZIELE DO VAL; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para escapar dos aumentos de preços de 40%, em média, nos eletrodomésticos, e de até 35% nos carros importados, os consumidores foram às compras assim que foi anunciada a subida do imposto de importação dos bens duráveis para 70%.
Na noite de quarta-feira, das 20h às 22h, a Import Express, especializada em eletroeletrônicos estrangeiros, vendeu nas quatro lojas o equivalente a uma semana.
Ontem, Gilberto Asmak, sócio-diretor, decidiu suspender as vendas. Só cadastrava os clientes.
É que a empresa estudava se o repasse da alta do imposto para os preços seria imediato. Os aumentos devem ser da ordem de 30% e 40%, afirma Asmak.
"Foi uma loucura. Na quarta-feira, após o anúncio da alta do imposto, fomos forçados a fechar as portas da loja do Barra Shopping à meia noite. Era muito grande o número de clientes", afirma Giuseppe Bizarro, presidente do Grupo Dreams.
A empresa tem 105 lojas de importados e é revendedora exclusiva da Frigidaire para Mappin, Carrefour, Ponto Frio, Arapuã, G.Aronson e Lojas Garson.
Ele conta que estas grandes redes do varejo também saíram às compras ontem para aproveitar o preço antigo. Em um dia elas encomendaram 5.000 geladeiras. A média mensal de vendas é de 4.000 unidades.
Carros
A corrida se repetiu nas revendas de carros importados. A maioria das concessionárias ainda não repassou a alta do imposto de 32% para 70% nos preços dos veículos. Emílio Julianelli, presidente da Abeiva, calcula um aumento de 35%.
Na loja KTM —revendedora Nissan—, o número de negócios fechados ontem triplicou em relação à média diária.
"Comercializamos o que tínhamos em exposição e todo o nosso estoque. Só não vendemos mais porque não havia automóveis para entregar", afirma Antonio Joaquim de Moura Andrade, gerente.
Preços
Os eletroeletrônicos importados vão custar 40% a mais, em média, com o aumento do imposto de importação de 20% para 70%.
Nos cálculos dos importadores, a geladeira GE de duas portas (410 litros), por exemplo, sobe de R$ 1.200 para R$ 1.680.
O ferro de passar roupa da Electrolux, de R$ 55 para R$ 80, e a lavadora de roupa Frigidaire (8 quilos), de R$ 819 para R$ 1.228.
A Supplier, distribuidora exclusiva da General Electric no Brasil, informa que a alta do imposto de importação será repassada para os preços em 30 dias. Nos seus cálculos, o aumento será de 40%, afirma João Francisco da Silveira Neto, diretor.
A alta dos importados abre espaço para a subida de preços dos nacionais."A indústria local vai cobrar mais caro porque não enfrentará a concorrência de fabricantes estrangeiros", diz Bizarro. O próprio governo se mostra preocupado com isso.
Ontem, a ministra da Indústria e do Comércio, Dorothéa Werneck, disse ao presidente da Eletros, Roberto Macedo, que espera que essas medidas não sirvam como oportunidade para aumento de preços de produtos nacionais.
Corte
Silveira Neto conta que ontem pela manhã cancelou a vinda de um navio que sairia dos Estados Unidos na próxima segunda-feira com 200 eletrodomésticos. "Estamos pensando em cortar 40% as compras desses produtos."
A Import Express, que vai cortar em 30% as compras de mercadorias estrangeiras, já estuda até a possibilidade de comercializar só produtos nacionais.

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