São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Cingapura é um projeto

LUÍS NASSIF
DO CONTRADITÓRIO, CONCLUI-SE O SEGUINTE:

1) Embora enfrentasse problemas operacionais e dificuldades no encaminhamento burocrático do projeto, as idéias básicas do Projeto Cingapura surgiram de fato na gestão Luiza Erundina.
2) A confrontação com a gestão Erundina demonstra que, até o momento, a habitação popular está longe de se constituir em prioridade da gestão atual. Não foi rebatida a informação, fornecida por Ermínia, de que a prefeitura abandonou o Plano de Defesa Civil, elaborado na gestão anterior. E que isso resultou em mais mortes por deslizamentos em dois anos de governo Maluf do que em toda a gestão Erundina. A Sehab está isenta dessa culpa, já que esse trabalho foi transferido para outras secretarias. A prefeitura, não.
3) Também não procede a informação de que o programa está sendo financiado pelo Bird. Pode vir a ser, já que as negociações ainda estão em curso. Mas ainda não é.
4) Não existem prontas 12 mil unidades, nem existem 70 mil pessoas atendidas pelo Cingapura —conforme a coluna havia afirmado, com base em informações fornecidas pela Sehab. Até março (em dois anos de gestão Maluf) foram entregues apenas 12 prédios, com 20 apartamentos cada —240 apartamentos somente. Até março de 1996, poderá ser entregue um total de 3.000 unidades. Para chegar às 12 mil unidades citadas pela coluna, a Sehab incluiu 9.000 famílias a serem beneficiadas por obras de infra-estrutura —o que não ocorre até o momento.
5) Em contrapartida, seja por falta de cuidados burocráticos da antiga administração, seja por falta de interesse da atual, a prefeitura de fato paralisou a construção de 8.000 unidades em mutirão, alegando problemas com o Tribunal de Contas do Município —um órgão que tem se revelado tão parcial na avaliação da gestão Erundina quanto complacente com a atual.
A análise do orçamento municipal revela que os gastos da prefeitura com as obras do complexo viário Ayrton Senna têm superado em muito as dotações para educação e saúde.
Conclusão desse imbróglio: a coluna continua acreditando na seriedade e na competência do secretário da Habitação, Lair Alberto Krahenbuhl. E torce para que, em função da repercussão obtida pelo projeto Cingapura, o prefeito Paulo Maluf transforme a habitação popular de fato em prioridade.
Até agora, as verbas colocadas pela prefeitura à disposição da Secretaria da Habitação não estão à altura das verbas alocadas para a divulgação do que, até agora, não passa de um projeto.

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