São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Filme expõe as perversões de um Japão opulento e ocidentalizado

EDUARDO SIMANTOB
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Filme: Tokyo em Decadência
Direção: Ryu Murakami
Elenco: Miho Nikaido, Sayoko Maekawa
Produção: Japão, 1992
Duração: 92 min
Estréia: hoje, nos cines Belas Artes (sala Aleijadinho), Ipiranga 1, Eldorado 5, Morumbi 1

A reconstrução e posterior superdesenvolvimento da sociedade japonesa do pós-guerra certamente deixou sequelas profundas na cultura do país. Mais que isso, algumas perversões. É nesse raciocínio que o diretor Ryu Murakami constrói o universo de "Tokyo em Decadência", que estréia hoje.
Murakami acompanha Ai, uma jovem garota de programa, caída na vida por circunstâncias adversas, especializada em atender fantasias sado-masoquistas.
Sua personagem é apenas a ponte para expor as perversões de milionários entediados, fruto de uma sociedade que absorveu todo um imaginário ocidental, encaixado desajeitadamente entre as tradições milenares do Japão.
Que o Japão tenha se tornado um mosaico multicolorido de produtos e imagens as mais diversas, não é nenhuma novidade. Mas os efeitos disso vão mais longe, a começar pela reação das mulheres japonesas tentando quebrar o patriarcalismo de séculos de dominação absoluta dos homens.
Não é uma missão das mais fáceis. A personagem Ai precisa chegar ao fundo do poço para tomar coragem de seguir sua vontade. São longas sessões de cordas, correntes, algemas, seringas, vibradores e chicotes, embebidos em drogas, que contrastam com a personalidade quase pueril da jovem.
Mesmo assim, o filme não beira o pornô. A partir da cena inicial, talvez a que cause mais impacto, não há tantos absurdos sexuais como a propaganda faz questão de enfatizar.
Desde Nagisa Oshima, com seu antológico "Império dos Sentidos", que não somos surpreendidos por temas tão "pesados" vindos do Japão. Mas o cinema japonês se mostra presa de um olhar mais ocidentalizado, e muito aquém de genialidades incontestáveis, como Ozu ou Kurosawa.

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