São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Ruandeses fogem do Burundi

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de 40 mil refugiados ruandeses da etnia hutu deixaram ontem o campo que os abrigava em Magara, no norte do Burundi, e se dirigiram a pé para a vizinha Tanzânia. Eles temem a violência étnica que já fez dezenas de mortos nos últimos dias.
"O campo de refugiados de Magara está completamente vazio e milhares de outros ruandeses poderão partir os campos vizinhos nos próximos dois dias, disse Dominique Boutriot, porta-voz da entidade humanitária MSF (Médicos Sem Fronteiras).
Mais de 200 mil ruandeses da etnia hutu se refugiaram no Burundi no ano passado, quando uma guerrilha da etnia tutsi tomou o poder em Ruanda, derrubando um governo formado por hutus. A guerra civil de 1994 deixou 1 milhão de mortos.
Em Genebra, o Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) disse que 1.500 hutus de Ruanda que haviam deixado os campos no norte do Burundi na terça-feira já chegaram a Kitale, no leste da Tanzânia, e outros 11 mil eram esperados para ontem.
Jornalistas que acompanhavam a marcha dos refugiados disseram que a coluna de pessoas a pé se estendia por 35 km.
Os hutus ruandeses começaram a fugir do Burundi na semana passada, quando um ataque por homens uniformizados e não-identificados deixou 12 mortos e 22 feridos entre os refugiados do campo de Ngozi. Há sete campos na área.
"Não há segurança aqui e a culpa é do governo do Burundi. Nós temos medo e por isso vamos andar até a Tanzânia, disse um refugiado que partia.
"Ouvimos sobre os massacres em Bujumbura no rádio e soubemos que os franceses estavam partindo. Então, partimos também, disse outro.
Bujumbura, a capital do Burundi, foi palco de confrontos étnicos entre hutus e tutsis que deixaram entre 200 e 500 mortos desde 19 de março. Pelo menos três pessoas de nacionalidade belga foram mortas e a maioria dos europeus deixou o país nos últimos dias.
Os hutus são 80% da população do Burundi; os tutsis são 15%. Líderes dos dois lados assinaram um acordo de paz na quarta-feira.
O acordo foi mediado pelo ministro francês da Cooperação, Bernard Debré. Os signatários são o presidente, o hutu Sylvestre Ntibantuganya, e o primeiro-ministro, o tutsi Antoine Nduwayo.

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