São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Nova encíclica do papa altera o catecismo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Catecismo da Igreja Católica publicado em 1992 vai ser mudado por causa da nova encíclica do papa. O cardeal Joseph Ratzinger disse que João Paulo 2º acentuou mais que nunca a oposição à pena de morte, chegando quase a propor a proibição dela.
A pena de morte não é rejeitada pela Igreja Católica. O papa, na encíclica "Evangelium vitae" (Evangelho da vida), divulgada ontem, reiterou o ensinamento tradicional de que a pena de morte pode ser usada quando não há outro meio de defesa da sociedade.
O documento, no entanto, diz que esses casos são "cada vez mais raros, senão inexistentes".
Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, responsável pela publicação do Catecismo e pela apresentação da encíclica, feita ontem, disse que o papa "marcou um importante avanço doutrinal", que deverá estar refletidono Catecismo.
A encíclica condena todas as formas do que João Paulo 2º chama de "cultura da morte. Os católicos são instados a opor-se ao aborto, à eutanásia e à pesquisa médica com embriões humanos mesmo quando essas práticas são permitidas por lei.
"Cristãos, assim como todas as pessoas de boa vontade, são chamadas sob grave obrigação de consciência a não cooperar formalmente com práticas que, mesmo que permitidas pela legislação civil, são contrárias à lei de Deus", diz a "Evangelium vitae".
O cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, chefe do Pontifício Conselho para a Família, disse que a excomunhão prevista pela doutrina da igreja recai não só sobre quem comete "o crime do aborto ou da eutanásia", mas também sobre os cúmplices do ato.
"Estou chocada com um documento que nega a autoridade moral da mulher e atrapalha as pessoas do mundo todo que se beneficiam com a pesquisa médica avançada", disse Pamela Maraldo, presidente da Federação de Paternidade Planejada da América.
Frances Kessling, presidente da associação Católicos por uma Livre Escolha, que defende o aborto, disse acreditar que a encíclica será usada como arma pelo lobby antiaborto no Congresso americano.
Para Ratzinger, o papa reiterou a proibição do aborto, da eutanásia e de qualquer forma de homicídio reivindicando "a autoridade conferida por Pedro a seus sucessores, em comunhão com os bispos".
O ex-teólogo católico suíço Hans Küng disse que o papa se apresenta como "um ditador espiritual". "O papa quer abolir a liberdade de consciência nos assuntos mais íntimos da vida íntima e inclusive proibir aos Parlamentos democraticamente eleitos de legislar nesse terrenos", disse.

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