São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
Próximo Texto | Índice

Doloroso mas imprescindível

"Primum vivere, deinde philosophari." Ao elevar as alíquotas de importação de automóveis e bens duráveis, o governo respondeu de modo pragmático à deterioração das contas externas. Mesmo sendo um princípio altamente desejável, ficou claro que a abertura da economia não tem como escapar ao império das circunstâncias.
A conjuntura internacional alterou-se de maneira impressionante desde o surpreendente advento da crise mexicana. O capital financeiro que nos últimos anos entrava no Brasil mudou de direção. E o Banco Central registrou a saída de mais de US$ 4 bilhões só em março.
Sem a compensação das entradas financeiras, tornou-se inviável manter a trajetória de déficit comercial. O certo é que, dadas as condições atuais, não há como sustentar um nível tão elevado de importações.
Assim, recuperar os superávits comerciais passou a ser um imperativo impostergável. E reequilibrar o balanço de pagamentos sem afetar fortemente a incipiente estabilidade dos preços tornou-se o grande desafio do Plano Real.
A escolha dos itens atingidos pela elevação de tarifas parece seguir esse critério. Foi elevada a tarifa de importação de bens duráveis de consumo final, mas não dos itens básicos do custo de vida, como alimentos. Ademais, o governo não elevou as tarifas das matérias-primas e dos bens de capital. Desse modo, procurou evitar que fossem inibidos os investimentos ou que se criassem pressões inflacionárias ao longo da cadeia produtiva.
É claro que a diminuição da concorrência externa nos mercados de carros e produtos eletro-eletrônicos abre espaço para o aumento de preços. E o baixo grau de concorrência interna torna essa ameaça ainda mais presente. Deve-se reconhecer, também, que mudanças bruscas como a de ontem prejudicam o planejamento empresarial. São aspectos negativos aos quais o governo tem de responder.
É inegável, entretanto, que o Planalto agiu na direção certa. Ignorar as adversidades externas poderia conduzir o país a uma grave crise cambial. As medidas foram dolorosas, porém imprescindíveis.

Próximo Texto: Dólar Gump
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.