São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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Protesto fica à distância

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARAUPEBAS

Famílias de trabalhadores sem-terra e sindicalistas ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) protestaram ontem contra a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a 25 km de distância do local onde ele se reuniu com os governadores da região amazônica.
Os manifestantes eram cerca de 500, entre eles dezenas de crianças, pelos cálculos da Polícia Militar e organizadores.
O protesto foi no portão de entrada na cidade de Carajás, de propriedade da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). O cordão formado pelos sem-terra e sindicalistas interrompeu a passagem de pedestres e veículos das 9h30 às 10h30.
FHC foi chamado de "bandido" e "ladrão" ao microfone, pelo coordenador do sindicato que reúne os trabalhadores de Carajás, Uirama Estrela. "Ele (FHC) representa o desemprego", afirmou Estrela.
"Fuga"
Para o presidente da CUT do Pará, Evandro Rodrigues, FHC fugiu do contato com a sociedade ao escolher Carajás para a visita.
Segundo Rodrigues, um protesto semelhante, pela reforma agrária e contra as reformas na Previdência, iria reunir 8.000 pessoas em Conceição do Araguaia (PA), para onde o presidente cancelou a viagem.
As 1.500 famílias de sem-terra acampadas em Paraupebas (750 km ao sul de Belém) há nove meses reivindicam 75 mil hectares no cinturão verde da Serra dos Carajás.
"O presidente já foi um companheiro preso e até hoje não se posicionou sobre a nossa luta", disse Onalício Barros, 29, diretor do MST.
Polícia
Vinte soldados armados da Polícia Militar do Pará impediram o acesso dos manifestantes à cidade da CVRD, onde só se entra com permissão. Não houve conflitos.
"Toda conquista vem através de reivindicações", disse o comandante do grupo, tenente Costa e Silva. "Se eles não conseguiram agora, os filhos deles vão conseguir."
Mesmo à distância, os gritos de "fora FHC" e "queremos terra" chegaram aos ouvidos do presidente. Uma hora depois do fim do protesto, cercado de seguranças e governadores no auditório do Cine Teatro, FHC observou que "possivelmente por aqui hoje haverá gente pedindo terra".
O presidente lembrou os assentamentos iniciados na semana passada e disse que "esse governo dará terra a quem precisar de terra".

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