São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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A falta de um projeto nacional

MIGUEL ARRAES

A oposição tem fiscalizado as ações do governo, mas lhe falta um projeto nacional, capaz de unir forças que estão dispersas e de mudar a situação econômica e social do país. Este é que deve ser, na nossa avaliação, o ponto central das discussões.
Em contrapartida, isso ocorre também com o governo, no momento, afogado na sua organização interna, preso às questões mais gerais e sem condições de enfrentar as dificuldades mais prementes da população.
Há quem tente confundir a opinião pública, atribuindo às propostas de um projeto nacional um sentido mesquinho e xenófobo. Ao contrário. Devemos nos inserir no processo de globalização da economia do chamado mundo "moderno". Mas a partir de estratégias aqui definidas, que preservem a integridade real e não apenas formal do país, através da interação de suas regiões, de sua economia, de políticas públicas que partam da heterogeneidade brasileira como pressuposto para a construção da democracia.
Ao nosso povo o que interessa não é "modernizar o capitalismo", mas "modernizar o país". E um país "moderno" não se mede apenas pelo lugar ocupado por ele nas estatísticas econômicas. Mas pela capacidade de atendimento às necessidades de alimentação, trabalho, saúde, educação, segurança, transporte e lazer de sua população. Um país moderno é um país sem miséria.
Dessa forma, a questão principal -para a qual ainda faltam propostas unitárias da oposição- é a dos rumos do desenvolvimento nacional e das políticas públicas que delas decorrem. Uma questão que deve nortear todas as demais, sob pena de ficarmos girando em torno de problemas lançados por outros, com o objetivo de manter o atual estado de coisas e para que não se efetivem as mudanças exigidas pelo povo.
Definir os rumos do desenvolvimento nacional, ao largo de posições dogmáticas que só exacerbam o debate e sem perder de vista o atendimento das necessidades da maioria, é o desafio lançado à frente dos que são historicamente comprometidos com as forças populares.
Sem esse balizamento, corre-se o risco de contribuir para a hegemonia da facção dogmática das posições do governo, que pretende acabar com o Estado e com as funções que ele deve exercer, sobretudo na defesa da maioria excluída e impotente por não dispor de voz, nem de poder.
Precisamos afirmar a soberania do Brasil. O povo é o maior interessado na existência da nação. Ao contrário das elites, o povo sabe que fora da nação, ou sem ela, seus problemas fundamentais não serão resolvidos. Ele exige e espera as mudanças que toquem e modifiquem as duras condições de vida a que está submetido.
Apoiar esta luta, orientá-la politicamente, fixando objetivos duradouros, que sejam alternativa real às políticas ditas "neoliberais" ou "modernas", é a tarefa que cabe às forças populares exercerem com maior eficiência e sentido unitário.

de Pernambuco (1963-64 e 1986-90) e deputado federal pelo PSB-PE (1990-94).

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