São Paulo, sábado, 1 de abril de 1995
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A difusão da desinformação

TASSO JEREISSATI

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito assumindo em palanque uma proposta clara de reforma do Estado, defendendo-a como essencial à correção de injustiças sociais crônicas e à manutenção do plano de estabilização econômica. E ninguém tem dúvidas de que a população votou na estabilidade da moeda e na modernização do Estado.
Agora, quando o governo encaminha suas propostas iniciais para a concretização de mudanças, não chega a ser surpreendente que surjam pressões contrárias de diversos pontos. Afinal, não se faz reforma de verdade sem quebrar privilégios, sem contrariar interesses. O que soa contraditório é que setores da oposição caracterizados pela crítica ao status quo só tenham feito movimentos, até agora, no sentido de impedir as mudanças, sem apresentar qualquer alternativa a elas.
Em vez de buscar o diálogo em torno do interesse coletivo, a oposição tem preferido difundir a desinformação. Exemplo disso é grande confusão que se tem feito com a proposta de reforma da Previdência. As críticas levadas a público são de um simplismo tão exagerado que só podem ter o propósito de levar à população receios infundados, como o da perda de direitos adquiridos.
Um olhar um pouco mais atento revela por trás dessa onda grupos corporativos que, na verdade, estão interessados em manter o status quo, bloqueando a reforma da ordem econômica, e se valem da Previdência como bandeira emocional para gerar um clima adverso na população.
A oposição sabe que a reforma da Previdência é extremamente necessária e que o governo, ao assumir o desgaste de encaminhá-la já foi movido pela consciência da sua responsabilidade, já que os efeitos não virão no curto prazo. Deixar a Previdência como está significaria fazer vista grossa a uma falência programada para daqui a cinco ou seis anos. Aí sim, um estrago de enormes proporções para todos os aposentados.
No fundo, existe unanimidade de que é preciso reformar a Previdência. Mas onde estão as alternativas oferecidas pela oposição?
No caso da educação, é a mesma coisa. Todo mundo concorda que o ensino superior está mergulhado em uma crise. Todos sabem da baixa qualidade do ensino, da falta de interação com comunidades e da pífia produção científica da maioria das nossas instituições universitárias.
Mas, pelo que tem demonstrado, a oposição não gosta de ouvir falar em mudanças nas universidades.
Outra unanimidade é a necessidade de priorizar os investimentos na área social. As bandeiras da melhoria da educação, do combate à fome e à miséria são de todos. Mas é preciso definir se o Estado vai mesmo priorizar essas áreas ou continuar assumindo os pesados investimentos que o país necessita em energia, telecomunicações etc. Sem a mudança da ordem econômica, para viabilizar a atração de investimentos privados nacionais e internacionais, não será possível resolver a equação.
Pela idade dos problemas que a provocam, a discussão sobre a necessidade de reformas já deveria estar em um grau de maturidade bem mais avançado. Mas está difícil ser otimista quanto ao bom senso da oposição. O que temos visto é a união de "neoconservadores" com "velhos progressistas" em torno da manutenção do status quo. O lema subjacente dessa união tem sido "As coisas vão mal, mas nada deve mudar".

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