São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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'A saída é seguir os rios e as linhas de trem'

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Candido Malta Campos Filho, 58, quer retomar um plano que os ingleses colocaram em prática no século passado e foi se perdendo com o tempo: o de assentar a cidade ao logo dos rios e ferrovias. Leia seu projeto para São Paulo do ano que vem:

"São Paulo tem uma oportunidade de crescimento numa escala gigantesca ao longo das ferrovias. A cidade tem três rios: o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí. As ferrovias são paralelas aos rios. Não foi por acaso que as indústrias nasceram na beira das ferrovias.
Na margem do Tietê, você tem as indústrias do eixo Penha-Lapa. Ao longo de outra ferrovia, a antiga Santos-Jundiaí, nasceu a concentração de indústrias que vai do Ipiranga ao ABC. Os principais centros de serviços e de comércio estão nas margens das ferrovias.
Minha utopia é usar as áreas que as indústrias deixaram vagas e criar nesses locais centros de serviço, de comércio e de habitação.
Isso já está começando a acontecer na zona oeste da cidade. É só ver o shopping West Plaza.
Para locomover essa população eu transformaria as linhas de trem em metrôs de superfície. É uma solução barata. Metrô de superfície custa US$ 25 milhões o quilômetro. Em São Paulo, a última linha subterrânea de metrô, sob a avenida Paulista, custou US$ 160 milhões o quilômetro. O preço do quilômetro em Portugal, para um metrô a prova de terremoto, é de US$ 40 milhões.
Qualquer plano para resolver a questão do transporte tem que levar em conta toda a região metropolitana. As cidades são interligadas. A vantagem do trem é que já existem 180 km de linhas na região metropolitana.
Outra utopia são os metrôs paralelos, um correndo ao lado do outro, com 30 metros de largura. Daria para colocar cinco linhas de metrô e uma linha em cima do outro. É meio Flash Gordon, mas é viável.
Teria também barcos de passageiros nos rios Tietê e Pinheiros, ligados ao metrô e ao trens.
Hoje o metrô é tímido, quando não aparece na paisagem da cidade. Na minha utopia ele dominaria o horizonte visual.
Haveria uma concentração de prédios junto aos metrôs e às estações ferroviárias. Seriam torres de 60, 70 andares.
É melhor concentrar para manter a diversidade da cidade. Você preserva a história de certas regiões, mantém as vilas.
Julio Neves pensa o contrário. Quer espalhar prédios ao longo das avenidas. Com isso a cidade fica essa monotonia, esse mesmice de mar de prédios com 20 andares. É a degradação de São Paulo, uma cena que assistimos há 20 anos".

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