São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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'Sentimentalismo não deve obstruir obras'

DA REPORTAGEM LOCAL

Chega de sentimentalismo. São Paulo precisa de obras e não é uma história de 100 anos que deve detê-las, defende Joaquim Guedes, 62, professor de planejamento urbano da USP durante 16 anos. Leia a seguir seu projeto para aumentar a eficiência da cidade:

"A China está rasgando enormes avenidas sobre um tecido de 6 mil anos. Isso é inevitável para enfrentar o século 21. Tem que alargar velhas ruas, abrir avenidas, inventar novas tecnologias.
O que me faz pensar muito é a oportunidade que a democracia oferece a todo tipo de contestação, até mesmo as mais absurdas.
Se vias de circulação são vitais, criar obstáculos vai gerar atraso. A cidade perde sua eficiência. É como o corpo. Se falta oxigênio você morre. São Paulo já infartou.
A competição hoje não é só entre cidades de um mesmo país, é global. Para enfrentar essa competição é preciso eficiência tecnológica, rasgar avenidas, linhas de metrô, trem e interligar tudo.
É ingênuo imaginar que metrô resolve tudo. Tem uma série de fluxos que não passam por metrô. Sem dúvida nenhuma, o Maluf está certo. Faria Lima e Jânio Quadros também estavam.
As boas intenções de movimentos como o da Faria Lima iludem o real desserviço que prestam à cidade. É a engenharia da ineficiência. A oposição a Maluf representa o atraso.
A cidade tem que progredir porque ela é a infra-estrutura da vida social. O progresso urbano beneficia a todos.
A análise desses problemas exige sensibilidade, mas não sentimentalismo. Muitas análises contra a cidade do futuro são sentimentalistas, piegas até.
A questão não é passar o trator ou preservar. A vida é mais importante. Falaram muito da desestruturação da comunidade do Itaim. Isso não existe. O normal é uma pessoa mudar de casa pelo menos 15 vezes durante a vida. Falar no velho bairro é perverso. Os velhos moradores foram trocados por butiques chiques.
Todas as cidades foram feitas por superposições. Há 11 Delis e 7 Tebas, uma em cima da outra. São Paulo é uma cidade nova, tem prédios de 100, 200 anos. O sentimentalismo aqui é obscurantista.
A complexidade hoje é tamanha que os planos têm que ser feitos com muita delicadeza, com uma certa razão.
O setor privado tem que pagar pelo caos que provoca. Regiões mais adensadas teriam que pagar impostos específicos mais altos. Estacionamento tem que ser feito por quem levanta prédio ou abre um restaurante. Não pode continuar esse Vietnã que é hoje".

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