São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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McDonald's importa até alface para manter preço

Estratégia da rede gera aumento de consumo de 55%

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros comeram 24,8 milhões de Big Mac no ano passado. Foram 9,3 milhões no primeiro semestre e 15,5 milhões depois do Plano Real.
Provavelmente limpou a boca com um guardanapo feito nos EUA. Comeu batatas importadas dos EUA ou do Canadá, acondicionadas em uma embalagem igualmente importada.
Picles, os molhos de nugget's, os saquinhos de catchup, a carne na entressafra brasileira e, durante janeiro e fevereiro por causa das chuvas, até a alface dos Big Mac veio dos EUA, de avião.
Não pára por aí. A matéria básica do queijo cheddar também é importada, chega da Nova Zelândia. E, ao final da refeição, o saco jogado no lixo também é importado, veio dos EUA.
A importação destes produtos é parte da estratégia do McDonald's. Desde junho de 1994, o cardápio e os preços da rede ficaram congelados.
"Hoje nós vendemos sanduíches para quem, anteriormente, não tinha poder aquisitivo", diz Jadir de Araújo, diretor de franquias, que completa: "Num primeiro momento, sentimos um aumento na demanda de 35%. Agora, está na casa dos 55%."
Araújo afirma que o objetivo da rede é manter os preços -"que são muito competitivos"- inalterados "pelo menos até o mês de junho". Indagado se tinha notado uma queda da demanda, respondeu: "De jeito nenhum."
A manutenção de preços está sustentada em um tripé; ganho de escala; aumento de eficiência e de qualidade, feita em parceria com os fornecedores; e importação.
Algumas importações são feitas para reduzir custos. Esse é o caso especialmente das embalagens e guardanapos, que garantem uma economia de 13%.
Os molhos do nugget's e os saquinhos de catchup também são importados para redução de custos com a embalagem de alumínio. "O preço do catchup nacional é o mesmo do importado, mas a embalagem aqui fica 30% mais cara."
Nem todos os produtos importados, porém, equacionam exclusivamente um problema de preço.
Roberto Désio, diretor de compras da rede, diz que não seria possível garantir qualidade se a batata oferecida na rede fosse comprada "in natura". São usadas mil toneladas por mês.
Os fornecedores, em contato e a pedido do McDonald's, estão montando uma fábrica de processamento de batata na Argentina. "Ele deve fornecer para todas as lojas do Cone Sul", diz Araújo. Enquanto esta fábrica não inicia produção, 100% das fritas chegam dos EUA e do Canadá.
Araújo diz que está em estudo a necessidade de outras duas fábricas de processamento de batatas. "A segunda deve ser construída no Brasil."
Todas estas importações custam para a rede US$ 2 milhões ao mês.
O McDonald's centraliza em São Paulo a distribuição de seus produtos para toda rede de lojas no Brasil. Pelo centro de distribuição, que é terceirizado, passam por ano oito milhões de caixas (cada uma com peso médio de 15 quilos). Os caminhões de distribuição têm três temperaturas (congelados, resfriados e secos). "É uma tecnologia única no Brasil", afirma Dézio.

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