São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Importado mais caro tenta acelerar superávit comercial

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo tomou uma medida violenta, elevando a tarifa de importação, para apressar a retomada dos superávits comerciais (exportações maiores que importações).
A afirmação é do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.
Segundo ele, a desvalorização do real já seria suficiente para reverter a tendência de déficits comerciais, mas o processo seria muito lento.
O governo, disse, ficou surpreso com o déficit de US$ 1,095 bilhão de fevereiro e decidiu tomar uma medida que "não deixasse dúvida de que vamos fechar o ano com superávit na balança comercial."
Mendonça de Barros descartou a possibilidade de mexer novamente no câmbio, com dois argumentos: 1) ao contrário do que se passou no Plano Cruzado, de 1986, o déficit comercial não foi fabricado pela queda das exportações, mas pelo aumento das importações; 2) somados os efeitos da nova "banda" e da queda do dólar no exterior, o real já foi desvalorizado este ano 15%.
Além disso, lembrou o secretário, "quem defende a necessidade de nova mexida no câmbio não leva em consideração os ganhos de produtividade obtidos pela indústria".
Hoje, segundo ele, somente um setor exportador enfrenta problemas com preço: o de calçados.
Mendonça de Barros disse que a elevação de alíquotas terá pouco impacto inflacionário e que os importadores têm estoques -alguns anunciaram venda com desconto neste final de semana, antes que as novas medidas fossem anunciadas.
Ele reiterou, no entanto, que o aumento de alíquotas não representa um retrocesso na abertura da economia.
Qualificando a medida de emergencial, Mendonça de Barros afirmou que a maioria dos produtos continua tendo a referência e sofrendo os efeitos da concorrência externa.
O secretário disse que a crise mexicana e o excesso de consumo no primeiro trimestre de 1995 acabaram mudando a agenda do governo, obrigando o país a gerar um superávit comercial para reduzir ou eliminar a dependência, no fechamento das contas externas, do ingresso de capitais.
Mendonça de Barros concorda com a diagnóstico de que foi o consumo aquecido que gerou o aumento das importações e "fabricou" o déficit.
Indagado sobre o por que de o governo não ter adotado novas medidas anticonsumo, Mendonça de Barros disse que "existem indicações tênues de queda no ritmo das vendas e de aumento da inadimplência".
Ele reconheceu, porém, que o governo dispõe de poucos instrumentos efetivos para debelar o consumo.
A retirada de poder aquisitivo via impostos é impraticável. Os juros já estão muito elevados -"atingiram o pico"-, e mexidas nos compulsórios "precisam ser feitas com cuidado, por causa dos efeitos colaterais".
Os mais importantes "efeitos colaterais" são aumento da chamada "desintermediação financeira" (os financiamentos deixam de passar pelo sistema bancário tradicional, fugindo ao controle do Banco Central) e a possibilidade de uma crise de liquidez no sistema financeiro, com quebra de bancos.

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